Qual a relação entre Zona de Conforto e Aceitação?

Esse artigo trata de uma experiência que tive, muito dolorosa. Como tudo na vida, podemos aprender, mesmo com a dor e foi isso que aconteceu e que me fez pensar nesta relação entre zona de conforto e aceitação.

 

Desde pequena, sempre tive cachorros, mas, um dia, quando estava atravessando uma rua, um serzinho, muito pequeno, absolutamente perdido e sem rumo pulou nos meus braços e eu não tinha a menor ideia do que fazer com ele. A sorte é que estava com um amigo e insistiu para levar “o gatinho perdido” para casa, para depois acharmos um lar para ele. Foi o que eu fiz, com exceção da busca por um novo dono. Aí começou meu amor pelos gatos, algo que não dá para explicar em palavras e também que não é o assunto deste artigo.

 

Como eu sempre busquei entender mais profundamente o significado da Felicidade, coloquei o nome de Feliz nesse primeiro dos nove gatos que tenho hoje… é… a família cresceu.

 

Mas, vamos lá, contar o que aconteceu e o motivo pelo qual entendi a relação entre zona de conforto e aceitação.

 

Zona de Conforto é aquela postura / comportamento que desenvolvemos quando se está acomodado, seja pela falta de desafio ou pela impressão de pleno conhecimento e domínio da situação, ou até mesmo pela falta de vontade de buscar coisas novas.

 

Sabemos que ninguém consegue viver se não visitar de vez em quando essa tal zona, mesmo que hoje, tudo e todos falem da importância em estarmos na zona de expansão. Esta, uma zona desafiante e desafiadora, que nos coloca em novos patamares de conhecimento, inovação, projetos, relacionamentos entre outros.

 

No entanto, de acordo com uma autora que gosto muito, a Judith Bardwick, no seu livro Perigo na Zona de Conforto, explica que o excesso de expansão nos leva ao excesso de ansiedade e, no seu extremo, ao medo. Sabemos disso muito bem nos nossos dias, onde a ansiedade é tão grande para alcançar novos desafios, inovar, vencer etc. que esquecemos de aproveitar a zona de expansão e nos direcionamos para a zona de medo, até com sintomas conhecidos hoje como pânico e todas suas consequências, inclusive de paralisação. Ou seja, ansiedade exagerada leva a uma paralisia, é o famoso “branco”. Por outro lado, a zona de conforto é um perigo, porque podemos não ver o que está abaixo do nosso nariz por sentirmos que tudo está certo, que nada vai mudar, que estamos estáveis e assim por diante.

 

E, voltando à história do Feliz, durante os 14 anos que fez parte integral da minha vida, nunca tinha adoecido e eu não tinha preocupação alguma quanto à sua saúde. E eu sempre pensei: “está tudo bem”. “Nem quero procurar nada para não mexer no que está bem”. Como sabemos, gatos não falam e são muito resistentes a qualquer problema que tenham. Como eu estava na zona de expansão em outras áreas da minha vida e via o Feliz bem, não fiz nenhum exame de controle.

 

No dia 17 de novembro de 2023, quase há um ano atrás, notei que o Feliz não estava como sempre, talvez tivesse emagrecido, estava meio parado, mas nada tão sério, imaginei.  Resolvi, então, levá-lo ao veterinário e descobri um imenso problema renal.

 

Eu não acreditei, porque passei tanto tempo na zona de conforto, que tive dificuldade de entender e aceitar o que os veterinários estavam falando.

 

Parece que também é algo comum para quem fica muito tempo na zona de conforto, não aceitar mudanças e reagir negativamente a algo que incomode ou que entristeça.

 

Não deixei internarem o Feliz e, segundo a veterinária, caso ele não comesse, era para interná-lo no dia seguinte. Voltei para casa, sem entender a seriedade da situação. É o que acontece quando ficamos muito tempo na zona de conforto. Não aceitamos a seriedade do momento.

 

E assim, nesse mesmo dia, à noite, Feliz fez a passagem, marcando meu coração de tal forma, que apenas hoje consigo escrever sobre isso.

 

Então, o sentimento foi de culpa, de arrependimento e tantas outras coisas que acontecem quando se fica na zona de conforto em alguma área da vida. Chorei muito, tentei me despedir do Feliz da melhor forma possível, tendo a certeza que um dia nos veríamos de novo.

Mas, depois de algum tempo, entendi que de nada adianta a identificação com o sofrimento. Não existia mais nada que eu pudesse fazer. Apenas podia aceitar a situação e evitar que isso acontecesse novamente.

 

Afinal de contas, ninguém tem a sabedoria Divina e também é necessário sair do orgulho e da prepotência e aceitar as coisas como são, se não há jeito de mudá-las.

 

O ponto crucial disso tudo é: o que se aprende com esse sofrimento? Eu aprendi a não confiar só no meu olhar e a fazer os outros pequenos exames regulares. Essa precaução não é garantia de nada, mas é a parte que me cabe.

 

Trazendo para o ambiente corporativo, a zona de conforto nos leva a cometer erros. Portanto, não é bom ficar nela muito tempo, apesar de precisarmos manter um equilíbrio com a zona de expansão para não entrarmos em pânico. E, se algo acontecer de forma inesperada, gerando um erro, um problema, uma quebra, uma perda, o caminho é sempre a busca da solução, caso seja possível, e a aceitação. Sair, então, do processo da culpa, aceitar a tão pregada vulnerabilidade e a própria condição humana. Eu costumo perguntar aos meus mentorados e clientes: você fez tudo que podia ter feito? Se sim, aceite e trabalhe para a mudança.

 

Desta forma é possível entender que não apenas na zona de expansão crescemos e amadurecemos, mas também a zona de conforto pode nos levar (de forma mais difícil, portanto pior) ao crescimento.

 

Uma vez que, com a aceitação vem o aprendizado e com o aprendizado a evolução acontece.

 

 

Profa. Dra. Fátima Motta

 

 

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