Nesse mundo Vuca (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) em que vivemos, sabe-se que ter uma equipe Competente, Compromissada e Comprometida é fundamental e que nem sempre isso é fácil. Os motivos são vários: uma certa displicência na contratação, critérios frouxos de avaliação, baixa orientação, dificuldade de dar feedback, entre tantos outros. Todos esses motivos estão associados a nós, líderes.
Mas, por vezes, opta-se por trabalhar com terceiros, onde não é usual aplicar provas de conhecimento, ou ainda fazer entrevista por competência. Erroneamente acredita-se em indicações e nas argumentações de vendas que esse terceiro apresenta. E pior, às vezes esse profissional contratado roga-se o direito de posicionar-se acima do contratante, emitindo direcionamentos e opiniões que não lhe dizem respeito.
E aí é que mora o perigo. Infelizmente há inúmeros profissionais que se dizem competentes, vendem bem o que dizem saber fazer, mas, na realidade, apenas falam que fazem, o que é um grande atraso para quem quer trabalhar de forma correta, ágil, contribuindo com um propósito real.
Você já passou por situações como essa?
Pois bem, eu já passei, o que me valeu uma grande lição. Confiar apenas em palavras é algo que não faz mais sentido nesse nosso mundo, onde todos se acham no direito de fazer tudo, sem a necessária formação. Para ser médico, advogado, engenheiro, psicólogo, psicanalista, anos de estudo são necessários. Infelizmente para ser coach, especialista em mídia social e outras tantas funções, nada é exigido e depende apenas do nosso critério de julgamento, em contratar ou não esses profissionais. Precisamos ter certeza das nossas escolhas, definir critérios e isso às vezes dá trabalho, principalmente para as empresas que não têm grandes estruturas para fazer as checagens necessárias.
Bom, mas, por que nos deparamos com profissionais assim, despreparados? Porque provavelmente o motivo que os conduz é o “ter” e não o “ser”. Ser alguém que de fato contribua, que deixe sua marca, que possa ser lembrado com gratidão. Às vezes isso não interessa. O que conduz é o dinheiro que conseguirá ganhar, pelo menos por um tempo, para tapar os diversos buracos que cada um acaba construindo.
Essas constatações são importantes como um alerta a cada profissional, pois sem um bom time, sem ser um líder que tem inteligência interpessoal, caímos nessas armadilhas, mas que nós mesmos somos responsáveis.
Hoje o líder precisa, cada vez mais, trabalhar de forma colaborativa, junto com a equipe, facilitar o trabalho de todos, conectar-se com a equipe, entender quem é cada pessoa, sua personalidade, suas motivações, seus interesses e valores.
E, se o líder realmente prestar atenção a esses aspectos, terá uma boa chance para levar o time a uma verdadeira evolução e desenvolvimento, esperada e necessária na Revolução 4.0. Ou seja, essa evolução transcende o alcance de resultados. Vai além, pois discute com a equipe aspectos, entre outros, como propósito e valores.
Para os mais imediatistas talvez essa conversa seja vista como dispensável, mas posso afirmar que não é. Por que? Porque pessoas com propósitos e valores diferentes dos que são necessários e pautam o projeto, a empresa, além da conexão com o atual momento cultural e social que vivemos, acabam sendo um peso que nos leva para baixo, para algo que é um retrocesso para todos.
Ontem, em uma palestra que participei, foi destacada a Natura por um projeto realizado que continha a discussão profunda do propósito e dos valores dos seus colaboradores. Fiquei muito feliz, porque normalmente é o que eu faço nas empresas, nos programas de desenvolvimento que facilito. Claro que levantar esse tema com líderes e colaboradores é um risco. E se os valores pessoais não forem os mesmos, ou no mínimo congruentes com os da empresa? Quando a pessoa tem essa consciência, é a primeira a querer procurar sua felicidade em outro lugar, o que eu, particularmente, acredito que seja muito válido. Pessoas infelizes nada constroem de valor.
Nos nossos tempos ágeis, não temos tempo para lidar com pessoas que reclamam e não se sentem conectadas com o propósito da empresa. O motivo é muito simples: como ser comprometido e compromissado com algo cujos valores e propósito não se coadunam com os seus? Portanto, essa forma de pensar e de agir, focada nos valores e propósito, está presente no mind set dos Líderes 4.0 e das pessoas que se conectam com um mundo digital, rápido e focado.
Construir competência
Então, mais uma vez está presente a necessidade de olhar para dentro, de investigar seus motivos e valores mais profundos. Como saber se tenho propósitos e valores alinhados com a empresa, área ou projeto? Para mim, é simples: quando tenho que me esforçar muito para fazer um determinado projeto, falar com um cliente, trabalhar com uma empresa específica, estudar algo, com certeza é porque meus valores e/ou propósito não estão alinhados. Por outro lado, quando tudo flui de maneira natural, onde minha competência e habilidades são colocadas a trabalhar, mesmo que seja difícil e desafiador, mas percebo que tudo está conectado dentro de mim, então, o propósito e os valores estão aí, dando suporte às realizações, sentidas como algo mais que um trabalho, algo sagrado, portanto, uma graça.
Finalizando essa nova conversa, ouvi dizer que, quem faz o que gosta, entra em um estado de “flow”. Sabe o que é isso? Um estado de êxtase onde tudo flui de maneira simples e natural. E claro que, conectando com o título desse texto, fica fácil construir a competência que falta, porque o compromisso e o comprometimento já “são”. Assim, dá para concluir que, “ser” no que se gosta, no que faz sentido, é, antes de tudo ser honesto consigo mesmo para, então, oferecer aos demais o que se tem de melhor, com compromisso, comprometimento e honestidade.
E você, está em “flow” ou em esforço?
Profa. Dra. Fátima Motta
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