Como entender e ser entendido por alguém

Uma das maiores dificuldades que nós, seres humanos, temos, é entender as pessoas e sermos entendidos por elas. Parece um absurdo dizer isso, aliás, porque somos os únicos mamíferos que conseguiram criar um sistema complexo que permite comunicar pensamentos, sentimentos e emoções, mas parece que reside aí um dos nossos maiores problemas. Você concorda com isso?

 

Agora que estamos em um período de festas, onde tudo leva a crer que a harmonia, a paz e a compreensão paira em todos os lares, sabemos que uma coisa é o que se posta nas redes sociais e outra é o que vivemos, nem sempre tão colorido e nem tão sorridente quanto as fotos mostram. Lá no fundo do nosso ser, tudo que queremos é que as pessoas entendam nossas intenções, mas parece que o que as pessoas entendem, não é exatamente o que acreditamos estar comunicando.

 

No mundo corporativo, todo líder quer ser entendido por sua equipe e, por outro lado, todos profissionais de um time adorariam realmente entender o que o seu líder espera. Já os colaboradores gostariam que o líder pudesse entender suas motivações, necessidades e ideias. Isso não é incrível? Ou seja, na família ou na empresa, nós, seres humanos, ainda apresentamos uma imensa dificuldade no que diz respeito à forma como nos relacionamos.

 

Esse assunto sempre me despertou e ainda me chama muito a atenção, pois causa sofrimento às pessoas em geral. Eu já sofri e ainda sofro muito quando não sou entendida ou quando não consigo entender alguém e esse é um tema que está sempre presente no meu trabalho, trazido pelos clientes, seja nas seções de coaching, nos treinamentos, ou pelos pacientes nas seções de psicanálise. Sendo assim, seria muito ingenuidade da minha parte querer explicar por completo essa nossa dificuldade, mas me atrevo a escrever algumas reflexões, fruto de experiências pessoais e de incontáveis estudos, originados de diversas fontes.

 

Para ficar mais palatável a leitura, prefiro colocar foco nas soluções, uma vez que sabemos bem sobre o problema. Então, vou escrever duas dicas por vez. Nesse texto, seguem a primeira e a segunda.

 

Dica número 1: Paciência

Quando se fala em paciência, nesse caso, é esperar com calma que a comunicação da outra pessoa termine, é ouvir sem julgar, deixando a mente livre de ideias preconcebidas, de pressuposições. Aguardar a sua vez de falar, de contra argumentar, de colocar seu ponto de vista. Interessante que quando eu era pequena, aprendi que “quando um burro fala, o outro abaixa a orelha”… será que era isso mesmo? Hoje essa frase soa tão pouco politicamente correta, não? Ainda lembro de algo um pouco mais moderno…”se temos duas orelhas e uma boca é para ouvir mais e falar menos”… nunca mais ouvi nenhum pai ou mãe falar isso para seus filhos, mas pode ser que ainda seja um conselho interessante, porém não garante a real construção da paciência, mas sim do respeito pelo outro, parceiro fiel para o início de uma construção efetiva de bons relacionamentos. O respeito permite-nos sair do autocentramento e colocar a atenção verdadeira no outro.

 

Mas, voltando à paciência, ela tem outra vertente, que é a paciência consigo mesmo, a calma para entender qual é a sua verdadeira intenção quando se comunica. A paciência consigo mesmo transforma a intenção em falas e comportamentos o mais próximos possíveis da intenção inicial. Possibilita que o lado interno do ser seja consultado e revisto. Permite que se aceite a própria imperfeição, as dúvidas, enfim, a própria humanidade.

 

Para entendermos melhor esse lado interno, vamos à segunda dica

 

Dica número 2: Reconhecer motivações e interesses

Toda vez que reconhecemos nosso real interesse ao nos comunicarmos, somos mais claros e precisos. Para isso, cabe alinhar nosso interesse ao conteúdo da comunicação e isso nem sempre acontece, mas como o objetivo é falar do positivo, o aspecto principal é sempre se lembrar da “causa” que está por trás da mensagem. No caso de um casal, por exemplo, reconhecer que o maior interesse está em ficar junto, ao invés de ter problemas de relacionamento. Na empresa, ser uma equipe vencedora, ao invés de construir inimizades e abismos. E quando as principais motivações e interesses não forem muito politicamente corretas, reconhecer que o seu lado meio “dark” está prevalecendo na questão e escolher a forma de agir, ou mudando o pensamento ou a ação.

 

O que não é bom que aconteça é a falta de consciência que coloca a pessoa em uma postura de vitimização ou de crítica, negando seus mecanismos de defesa. Vou dar um exemplo: se estou me desentendendo com o meu líder, ou com a pessoa que amo, se voltar para o meu real interesse, posso reformular o que estou falando, ou seja, posso falar da minha motivação verdadeira. “O meu interesse é ficar com você para sempre e não discutirmos por bobagem” …. “o meu interesse é ajudar nesse projeto da melhor forma possível. É por isso que quero conversar com você”. Por outro lado, se o interesse for a ruptura, também ser claro: “Não vejo mais sentido nesse relacionamento” …. “E estou em dúvida se quero continuar nessa empresa”… isso seria a real honestidade na comunicação, o que ajudaria muito. Sabe por que? Porque na maioria das vezes, quando falamos de algo descolado das nossas motivações e interesses, as pessoas que nos escutam sentem, mesmo que insconscientemente e fica aquela conversa que parece telefone sem fio.

 

Agora que já passei para vocês as duas primeiras dicas que, para mim, funcionam muito, quero fazer um convite: nos próximos dias, experimentem essas duas dicas e me digam se conseguiram ou não colocá-las em prática: Paciência e Reconhecimento dos reais interesses e motivações. Vejam se ajudou ou não. Quem sabe consigamos pouco a pouco ser melhores líderes, profissionais, pais, mães, filhos e, com isso, possamos sofrer menos com os nossos relacionamentos e construir um mundo onde os humanos possam se comunicar melhor… Esse é um dos meu sonhos!!!

 

Mas claro que temos um longo caminho pela frente. Para continuar contribuindo, logo, logo escrevo sobre as outras dicas. Aguardem!

 

Fátima Motta

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