Em um mundo onde a liderança é mais arte do que ciência, as lições podem vir das fontes mais inesperadas. Eu tive a grata surpresa de, ao começar a aprender a cavalgar, entender mais profundamente o que é liderança e resolvi compartilhar o que aprendi de diversas formas. Esse artigo é o primeiro fruto desse maravilhoso aprendizado. Virão outros, com certeza!
O hipismo é um esporte que, além de sua elegância e desafio, oferece insights profundos sobre a arte de liderar. Mergulhe comigo nessa jornada equina e descubra como transformar sua abordagem à liderança, inspirado pelas arenas de hipismo.
Serão 15 pontos que podem transformar e inspirar sua forma de liderança. Posso dar o meu testemunho: sempre ensinei o que é liderar e vivenciei esse aprendizado de maneira bastante tranquila, uma vez que tive equipes fantásticas que não me exigiam demais. No entanto, via as dificuldades dos meus clientes e é no hipismo que vivencio vários, dos principais aspectos da liderança, que me tornam uma líder muito mais competente e, tenho certeza, será um divisor de águas para quem tiver a coragem de se aventurar em um mundo tão fascinante.
Estratégia: O Caminho para o Sucesso
No hipismo, cada salto é calculado, cada movimento é estratégico. Atenção e presença são fundamentais para que o cavalo salte, galope ou mesmo trote. No meu treino, sempre ouvia: fique no seu lugar de cavaleiro, deixe o cavalo fazer a parte dele.
Ainda hoje me deparo com líderes que ficam no operacional e não entendem que precisam cuidar da estratégia. Se o líder não sentar na sua cadeira de gestor, os colaboradores ficam sem função e, mais do que isso, sem objetivo e se desmotivam. Líderes precisam planejar as estratégias e se antecipar às necessidades de suas equipes. A estratégia é mais do que apenas alcançar metas; é sobre criar um caminho que inspire e motive. Como Jim Collins explica em “Good to Great” (2001), entender o que faz sua equipe pode transformar o bom em excelente.
Estabelecimento de Metas e Visão: a Conquista dos Resultados
Todo cavaleiro precisa definir o propósito que tem ao montar e, a partir daí, traduzi-lo em objetivos e metas claras. Se quer trotar, galopar, saltar, participar de provas, qual a altura e velocidade etc. E o interessante é que o cavalo precisa da visão do cavaleiro. Ou seja, o cavalo se movimenta também em função do olhar do cavaleiro, precisa ter visão definida. Olhar para onde quer ir é fundamental para que o cavalo siga a orientação do cavaleiro. Fazer correções caso o cavalo não esteja na direção correta e ter uma presença forte garantem o alcance dos objetivos pretendidos. Na minha pouca experiência, percebo que preciso me observar constantemente para não me distrair e perder a direção, prejudicando o objetivo estabelecido.
Da mesma forma, o líder precisa ter um propósito e traduzi-lo em uma visão clara, com objetivos e metas definidas. E ainda, não adianta apenas a definição, mas é fundamental a ação constante, o olhar presente do líder para o que foi estabelecido como objetivo. É necessário acompanhamento da equipe, avaliação para colocar na direção correta e presença constante. Por vezes, o próprio líder precisa observar e identificar possíveis deslocamentos da rota traçada.
Comunicação: O Diálogo Silencioso
O primeiro grande desafio que tive ao iniciar minha trajetória (ainda bastante pequena) no hipismo, foi me comunicar com o cavalo. A linguagem é outra, a comunicação é sutil. A interação é baseada em gestos, olhares e movimentos, ou seja, a comunicação é essencialmente corporal, embora o cavalo reconheça também a voz e o toque do cavaleiro.
Não é a comunicação o grande problema das lideranças? Durante todos os anos que trabalho com líderes, poderia fazer um diagnóstico que seria igual: comunicação como o principal problema. Eu aprendi com os cavalos que preciso saber ouvi-los, perceber seus medos e inseguranças. Cada gesto precisa ser consistente com a fala. Clareza e precisão constroem confiança e direção.
Imagine liderar sua equipe com a mesma clareza e precisão, onde cada gesto e palavra constroi confiança e direção. Como Mark Rashid, renomado adestrador, ressalta em “Considering the Horse” (1993), é o ouvir, não o falar, que define a comunicação mais efetiva.
Confiança: A Base da Parceria
Durante um bom tempo tive dificuldade em confiar no meu cavalo, o Chino. Isso porque caí e fiquei com medo. Enquanto não restabelecia a confiança com ele, nem o simples trotar acontecia. Precisei aprender a confiar nele e ele precisou aprender a confiar em mim. Isso aconteceu com uma interação constante não só nos momentos de treino, mas também no simples escovar, no banho e nos passeios. Durante essas interações, sempre busquei fazer o que me propunha, sem ficar mudando de direção. Ou seja, quando definia fazer um passeio, cumpria o que o cavalo esperava, uma vez que já estava selado.
Essa é uma lição vital para qualquer líder: desenvolver uma relação de confiança com a equipe. Para isso, o líder precisa aprender a cuidar da equipe, não ter agendas ocultas, pensar no melhor para a equipe, conhecendo cada profissional. Falar e fazer é uma grande chave para construir a confiança. Aí, você cria um ambiente onde a inovação e a criatividade florescem. Pense em como você pode ser o líder que, nas palavras de Simon Sinek em “Leaders Eat Last” (2014), cria um círculo de segurança, incentivando sua equipe a se superar e inovar.
Tomada de Decisões: a Rapidez da Escolha
No hipismo, decisões rápidas e assertivas são vitais. Quantas vezes ouvi do meu treinador: decide rápido para onde você quer ir, se não, o cavalo para, ou vai para onde ele quer, ou, ainda, fica sem direção. A consequência é a perda da confiança. Outro aspecto importante é a responsabilidade que o cavaleiro tem em tomar decisões que não prejudiquem o cavalo, seja colocando-o em situações de perigo ou de estresse elevado.
Quantas vezes presenciei equipes perdidas, sem rumo, por falta de decisão rápida da liderança. A falta de decisão gera uma série de dúvidas, inclusive em relação à competência dos líderes. A liderança eficaz deve ser capaz de tomar decisões oportunas e com base em dados, guiando suas equipes com confiança, sem causar danos pelo excesso de estresse ou de cobranças demasiadas.
Adaptação e Flexibilidade: Navegando nas Mudanças
Cavaleiros se adaptam a diferentes cavalos, ambientes e situações de competição. Mudanças climáticas no meio de uma prova ou de um passeio, interferências das mais variadas são normais e o cavaleiro precisa tranquilizar o cavalo, ao mesmo tempo que adapta e flexibiliza o caminho e a forma de conduzi-lo.
Líderes, por sua vez, nesse momento em que vivemos, precisam, mais do que nunca, saírem da rigidez e do controle, para caminharem em direção à adaptabilidade e flexibilidade, seja nas estratégias, objetivos, processos, seja na formação e desenvolvimento da equipe para o alcance dos resultados.
Gerenciamento de Estresse: o Poder do Controle Emocional
A capacidade do cavaleiro de gerenciar seu estresse e emoções influencia diretamente o desempenho do cavalo. Quando eu estou estressada, com medo, ansiosa, ou preocupada, o Chino (meu cavalo) sente e se comporta também com medo, estressado, ansioso. Um amigo que monta cavalos sem sela, ou seja, no pelo, ao saltar, estava ansioso e pressionou um pouco mais a barriga da sua égua. Ela ficou ansiosa, corcoveou e acabou derrubando o cavaleiro da sela.
Na liderança, manter a calma em situações de pressão, gerenciando as emoções, é essencial para liderar com clareza, transmitindo segurança e estabilidade para a equipe. Inspirar confiança, manter a equipe focada e tranquila é ainda mais importante hoje, uma vez que, em função das pressões, muitos colaboradores não aguentam e apresentam doenças físicas ou emocionais.
Empatia e Sensibilidade: o Reconhecimento do Outro
Um cavaleiro precisa entender as necessidades e limitações do seu cavalo. Por exemplo: se o cavalo é mais medroso ou gosta de manobras arriscadas, se está se sentindo à vontade ou está preocupado (seja por conta de um som, ou ainda de algo que viu), se está com fome e assim por diante. Só assim se estabelece uma conexão verdadeira.
Da mesma forma, o líder precisa ser empático e entender as necessidades da sua equipe. Ter sensibilidade para aceitar as possíveis preocupações, anseios e limitações de cada membro da equipe, garante uma liderança muito mais efetiva e autêntica, na medida que pode sustentar os valores a que se propõe. Este ponto é crucial para desenvolver relações fortes e um ambiente colaborativo, de apoio e compreensão.
Feedback: a Sintonia que leva ao Resultado
Nada mais importante na relação cavaleiro e cavalo do que a sintonia estabelecida, que se concretiza no feedback, no reconhecimento. Um simples afago, um bater com as mãos de forma carinhosa, são sinais que mostram ao cavalo que ele está fazendo a coisa certa. Assim como um puxar a rédea mais forte, ou ainda um encostar de perna mais apertado, mostram que algo está errado e precisa ser realinhado.
Com certeza, o feedback para os colaboradores é o que mais se discute em termos de liderança e se sabe os grandes benefícios que proporciona. Uma das queixas que eu mais escuto no meu trabalho como mentora é, por parte dos colaboradores, a ausência de feedback e, por parte dos líderes, a dificuldade em dar um bom feedback que produza resultados. Sem feedback os colaboradores não sabem se estão apresentando o desempenho esperado ou não. Entendendo que o feedback é constituído de pontos fortes, oportunidades de melhoria e sugestão, nada melhor do que essa ferramenta para garantir uma boa sintonia entre líder e liderado.
Trabalho em Equipe: Sinergia e Colaboração
No hipismo, a equipe por trás do cavaleiro é vital para o sucesso. Tratadores, instrutores e o próprio cavalo fazem parte da equipe que precisa estar muito unida, focada no objetivo e colaborando entre si.
Da mesma forma, a liderança eficaz reconhece a importância de cada membro da equipe, fomentando um ambiente colaborativo onde as habilidades e talentos são valorizados e potencializados.
Resiliência: Superando Obstáculos
Cavaleiros são mestres da resiliência, enfrentando e superando obstáculos, tanto literal, quanto metaforicamente. Eu sou a prova disso. Caí e levantei, não consegui um resultado, mas fui atrás. É necessária muita paciência, força de vontade e saber o que se quer. Dizem que antes de cair 10 vezes, não se é um cavaleiro… No meu caso faltam 8….Cair e levantar, analisar onde errou e começar de novo. É a resiliência que define a continuidade ou não desse esporte tão bonito.
Paralelamente, essa persistência é crucial na liderança. Encarar desafios de frente e aprender com os fracassos são marcas de um líder inspirador. Como Brene Brown destaca em “Daring Greatly” (2012), a vulnerabilidade é a fonte da verdadeira coragem, um princípio que todo líder deve abraçar para guiar sua equipe através de tempestades.
Desenvolvimento Contínuo: o Aprendizado que enriquece
No hipismo, o aprendizado e aperfeiçoamento são constantes. Cada dia que se monta, aprende-se algo. O cavalo e o percurso ensinam, o trote e o galope ensinam, assim como cada salto dado. Preparação para torneios onde cavalo e cavaleiro aprendem o tempo todo e, ao mesmo tempo, ensinam um ao outro. Como iniciante, eu aprendo a todo momento, seja com o Chino, seja com o meu professor. E o mais interessante é que muitas vezes eu não consigo fazer o que aprendo. Eu entendo a orientação, mas, na hora que vou colocar em prática acontece um desastre. Aí eu continuo até fazer certo.
Líderes devem fomentar uma cultura de desenvolvimento contínuo, incentivando a aprendizagem, a curiosidade e a superação de desafios, promovendo o crescimento individual e coletivo. Aberto ao novo, também propicia à sua equipe a possibilidade de se desenvolver. Líder e liderados aprendem continuamente, seja com os stakeholders, o mercado, produtos, economia e tantos outros estímulos que sugerem necessidade de desenvolvimento contínuo. Apenas lembrando que nem sempre os colaboradores aprendem de primeira vez o que é ensinado. Leva tempo e dedicação.
Consciência Situacional: Entendendo o Ambiente
A consciência do cavaleiro sobre o ambiente e o cavalo é o que garante que sejam tomadas decisões acertadas. O ambiente está propício para o objetivo traçado? Quais os perigos que podem paralisar ou assustar o cavalo?
Esta consciência situacional é paralela à necessidade de líderes de ter uma visão holística, compreendendo as dinâmicas da equipe, as tendências do mercado e os fatores externos, para tomar decisões informadas e proativas.
Liderança pelo Exemplo: Modelando o Comportamento
Cavaleiros lideram pelo exemplo. Uma pesquisa recente demonstrou que os cavalos podem perceber se o cavaleiro está triste ou alegre e essas emoções influenciam no desempenho esperado. A postura e a atitude do cavaleiro também influenciam. Depois da minha queda, passei a ter uma postura mais medrosa e não me sentia tão feliz como antes. Chino, meu cavalo, sentiu demais essa minha mudança e passou a ficar menos responsivo ao que eu pedia. Nessa mesma pesquisa verificou-se que os cavalos têm um desempenho melhor e aceitam mais a liderança quando o cavaleiro está feliz e entusiasmado.
Seja na arena ou no escritório, o exemplo que se dá como líder define a cultura da equipe. Como Robin Sharma afirma em “The Leader Who Had No Title” (2010), cada um de nós, independentemente do cargo, tem a capacidade de ser um líder através de nossas ações e atitudes. Quando há alegria e entusiasmo pela meta a ser alcançada, é muito mais fácil conseguir a adesão e o comprometimento da equipe. Assim, o exemplo pessoal define a cultura e os valores da equipe, inspirando respeito, confiança e comportamentos positivos.
Movimentando a Equipe: a Motivação que estimula
O Chino me ensinou uma coisa muito importante no que se refere a movimento e motivação. Eu precisei descobrir seus interesses para que ele venha atrás de mim. Ou seja, maçãs, bananas, cenouras, fazem o Chino me seguir, correr atrás de mim e ficar ao meu lado. Da mesma forma que uma pressão com os braços estendidos na direção das suas ancas fazem-no também se movimentar e, na velocidade que eu quiser, mais rápido ou mais devagar. Aprendi que ele se movimenta por interesse ou por pressão.
E acredito que as pessoas, de uma forma geral, também se movimentam por interesse ou por pressão. Cabe ao líder identificar os interesses de cada colaborador da equipe, seus objetivos pessoais, anseios, metas de vida e sonhos para estabelecer a conexão entre o que faz na empresa com seu interesse. E, também, os objetivos precisam ser estabelecidos e acompanhados de forma a estabelecer uma pressão saudável que gere movimento e ação da equipe.
Conclusão: Galgando Novos Patamares de Liderança
A jornada do hipismo à liderança é rica em lições que podem transformar a maneira como lideramos. É um convite para refinar nossas habilidades, abraçar novas perspectivas e liderar com coragem, confiança e empatia.
Assim como o hipismo exige dedicação, percepção e harmonia, a liderança é uma jornada contínua de autoaperfeiçoamento e empenho para elevar o potencial humano. Ao integrar esses princípios em sua prática de liderança, você estará não apenas guiando sua equipe a novos patamares, mas também transformando a si mesmo, forjando um legado de liderança que é tanto inspirador quanto impactante.
Embarque nessa jornada conosco e redescubra sua liderança através das lentes do hipismo, onde cada salto é uma lição, cada passo é um progresso, e cada vitória é compartilhada.
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Fátima Motta