Em muitas sessões de mentoria que conduzo, escuto algo curioso: “Fátima, sinto que preciso falar mais para ser respeitado como líder.” Mas será que precisamos mesmo dizer muito para sermos ouvidos?
A verdade é que a liderança não se mede pelo volume de palavras, mas pela clareza e intenção com que elas são ditas.
Recentemente, um líder que acompanho me contou que, ao assumir uma nova equipe, sentiu a necessidade de justificar todas as suas decisões, explicar cada movimento, como se o excesso de informação fosse criar confiança. O efeito foi o oposto: gerou dúvidas, confusão e até certo desgaste.
Depois de algumas conversas, ele experimentou algo simples: falar menos, com mais objetividade. Olhar nos olhos, escutar mais, e usar pausas, essas aliadas silenciosas que dão peso ao que é dito. O resultado? A equipe passou a prestar mais atenção e ele se sentiu finalmente no papel de líder, com segurança e presença.
Simplicidade na liderança não é superficialidade. É maturidade. É entender que liderança não é ocupar todos os espaços, mas criar espaço para os outros crescerem.
É como quando oriento líderes a darem feedback. Muitos acreditam que precisam de longos discursos para dar um retorno construtivo. Mas, na prática, uma frase bem colocada, com firmeza e empatia, vale mais do que 15 minutos de rodeios.
Liderar com simplicidade é também sinal de segurança. Quem está seguro do seu papel, não precisa se provar o tempo todo. Assume uma postura que transmite equilíbrio e confiança.
Aliás, segurança não tem tom de voz elevado. Tem postura serena. Não precisa de palavras difíceis, mas de coerência entre discurso e atitude.
Esses dias, numa mentoria com uma diretora de uma grande organização, ela me disse: “Fátima, eu falo, falo, explico, dou exemplos e, mesmo assim, sinto que não sou compreendida.” Ao aprofundarmos, descobrimos que o excesso vinha do medo de não ser vista como legítima no cargo. Quando ela entendeu isso, começou a praticar a escuta ativa, a dizer menos e sustentar seu lugar com mais presença do que palavras. Em pouco tempo, os resultados começaram a aparecer e ela se surpreendeu com a potência do silêncio e da escuta.
Costumo dizer que o líder que inspira é aquele que, ao entrar numa sala, não impõe presença. Ele simplesmente “é”. E esse “ser” já é suficiente para mobilizar, escutar, orientar e sobretudo confiar.
Em tempos de excesso, a verdadeira sofisticação é ser simples.
Na liderança, isso também vale.
Profa. Dra. Fátima Motta



