O que o medo pode ensinar?

Todos sabemos que o medo é uma reação natural e involuntária no ser humano e está sempre associada ao instinto de sobrevivência. O medo é uma trava que nos ajuda a pensar nos riscos e nas consequências desses. Na medida certa é considerado uma função saudável do comportamento humano.

Nada melhor do que falar sobre nossos medos nesse período em que todos estão preocupados, ansiosos e incertos quanto ao futuro. O medo é uma sensação pessoal, ou seja, o que assusta um, pode ser indiferente ao outro.

Quando sentimos medo, o corpo se prepara para enfrentar a situação, ou fugir dela. Nesse momento, o cérebro trabalha intensamente, gerando muita adrenalina e a pessoa pode sentir tontura, enjoos, dores no corpo, entre outros sintomas.

O medo e a coragem sempre foram parceiros inseparáveis do humano, assim como o desenvolvimento. Como isso acontece? Qual foi a primeira vez que sentimos medo?

A primeira vez, com certa foi ao nascer. Mas depois, nos deparamos com a vida e, enfrentar o mundo pode não ser fácil, que pode gerar esse sentimento, o medo, ou seja, uma sensação de perda de controle, que vai se instalando aos poucos, podendo alcançar proporções imensas que chamamos de fobia.

O que é medo?

O medo é qualquer situação ameaçadora, sendo uma reação normal do nosso corpo a sobrevivência. O medo pode ser uma reação física, moral ou emocional, que pode nos paralisar frente a uma ameaça ao nosso bem estar. O medo é um sentimento de insegurança com relação a uma situação, a uma pessoa ou a um objeto e está presente em muitas situações, que vão desde dizer a verdade perante uma pessoa até enfrentar situações desagradáveis e arriscadas.

Alguns medos nos acompanham a vida inteira, desde a nossa infância, gerando sempre um desconforto muito grande. Muitas vezes temos medo não do objeto, mas do que pode nos causar, acionando um sinal de alerta, provocando uma condição bastante instintiva. Podemos, então, reagir de 2 modos: paralisia ou impulso para a ação.

Essas posturas de alerta podem fazer com que se sinta uma ampliação do medo. Para entendermos melhor, há pessoas que simplesmente negam a existência de qualquer perigo, mas, em compensação, há outras que ampliam o medo, transformando esse sentimento em algo avassalador.

Antes de sentir medo, sente-se uma enorme ansiedade que pode provocar reações fisiológicas como ressecamento dos lábios, empalidecimento da pele, contrações musculares involuntárias como tremedeira, entre outros.

Em alguns casos o organismo reage de forma exagerada e podemos perceber que algumas pessoas sentem medo apenas de ouvir a voz de outros, como por exemplo frases negativas como: você não é capaz, você é uma pessoa incompetente, você não serve, você faz tudo errado. O medo é uma sensação que está ligada a um estado em que o organismo se coloca em alerta, perante algo que acredita ser uma ameaça.

Todos sentimos medo e quando há a negação desse sentimento, pode-se ficar desorientados e divergir perante a verdade de um fato. Quais são esses medos? De pessoas, de bichos, de situações e, hoje, do contato próximo com outros seres humanos, entre outros.

Tipos de Medos segundo Will Schutz

Segundo esse autor, quando fala da Dinâmica do Comportamento Humano, cita 3 tipos de medos considerados de base: 1) o medo de ser ignorado; 2) o medo de ser humilhado e o 3) o medo de ser rejeitado.

O medo de ser ignorado em geral nos trava, sentimos uma enorme agressividade encoberta, velada e cruel. Esse medo pode acontecer em qualquer tipo de relação e provoca muito estresse, podendo levar, ás vezes, à depressão. Esse tipo de medo, quando gerado por outras pessoas, é considerado uma forma de abuso no qual não há gritos e nem agressividade física, mas muita violência psicológica.

O medo de ser humilhado, por sua vez, representa o sentimento de ser rebaixado por outra pessoa, provocando vergonha, críticas e a ciência de que é alguém comum. A humilhação, em geral, vem em tom de ironia e nos causa um estado emocional negativo, que deixa uma profunda e negativa sensação em cada um de nós. É a sensação de não valermos nada, de sermos medíocres.

Por fim, o medo de ser rejeitado está associado à necessidade de aceitação, ao medo de não ser amado. Ocorre também quando nos decepcionamos com o resultado de um objetivo. É um sentimento muito profundo, pois a pessoa sofre, interpretando tudo ao seu redor e se sentindo rejeitado. Surgem sentimentos ou emoções como abandono, a busca constante de aprovação, falta de apoio emocional, privação de afeto e uma enorme sub valorização. Como consequência, a pessoa, em geral, começa a criar uma máscara para se proteger desse sentimento de desvalorização.

A rejeição nos faz perder a autoestima, diminui a autoconfiança, tira-nos a coragem e nos torna pessoas receosas, afetando situações da nossa vida e do nosso trabalho.

O medo começa com uma ansiedade e, se não reconhecido e trabalhado, aumenta até se tornar pânico. Quando o medo começa a modificar o cotidiano de forma negativa deixa de ser um sentimento saudável.

Como lidar com essa emoção?

Todos estamos cientes de que a vida não é fácil, mas aprende-se com cada sentimento, com cada situação, desde que se olhe para frente e se veja como agir em direção ao que se quer.

A partir do momento que se toma ciência de que nada acontece por acaso, e tudo é aprendizado, um pouco desse medo, mesmo não deixando de existir, toma uma dimensão diferente. Precisa-se aprender a transformar o medo em coragem, principalmente quando se é conduzido por um propósito verdadeiro.

Para sair do medo, o melhor caminho é não parar, mas sim continuar firme, movimentando-se e colocando força no objetivo.

O medo, em geral, começa de dentro para fora. É a forma como se enxerga as situações que gestam a preocupação por algumas coisas que começam a tumultuar a vida, sem necessidade. Vamos nos basear em um exemplo: um colaborador pode receber um feedback do líder e começa, então, a elaborar fantasias que causam preocupações, ansiedades e, por fim, o medo, vendo problemas onde não existem, causando sentimentos que provêm absolutamente de sua imaginação.

Mas a coragem também vem de dentro para fora e nasce ao se pensar o que realmente se quer da vida: sofrer ou ser feliz, briga ou paz, enfim, é quando o propósito assume seu lugar e gera a coragem para agir. Esses sentimentos de medo e coragem podem variar de pessoa para pessoa, onde há as diferenças individuais e as diferenças de personalidades.

O Medo e o Eneagrama

Para entender um pouco mais essas diferenças, utilizo agora dos conhecimentos do Eneagrama, sabedoria muito antiga e profunda, que fala dos 9 tipos de personalidade, das 9 formas de enxergar o mundo e suas interrelações, bem como os principais vícios emocionais.

O tipo 1 do eneagrama, que é conhecido como perfeccionista, tem medo de não fazer as coisas de modo perfeito, fazendo de tudo para chegar à perfeição, pois se não for perfeito pode ser ignorado, excluído ou humilhado.

O tipo 2, por sua vez, é aquele que é doador, que vive se preocupando com os outros e pode ter medo de não ser amado, de não ser reconhecido, por não ser necessário.

O tipo 3, conhecido como desempenhador, tem medo de deixar de ser útil para as pessoas, de parar de realizar coisas e de ser abandonado, fazendo constantemente movimentos de inclusão.

O tipo 4, o romântico, tem muito medo de não ser reconhecido, de perder sua criatividade e precisa se sentir amado o tempo todo.

O tipo 5, que é o observador, tem muito medo de invadir e de ser invadido, de perder seu espaço, de perder o que tem, uma vez que acredita na escassez dos recursos.

O tipo 6, o cético leal tem medo de confiar, duvida de si mesmo, perde a autoconfiança e às vezes troca o medo pela agressividade. É o medo de ser.

O tipo 7, o chamado epicurista, tem medo de não poder aproveitar tudo o que a vida lhe traz, não pode se deleitar com as coisas da vida. Tem medo de sofrer.

O tipo 8, o chefe, o patrão, tem medo de perder o poder, ser desafiado na sua competência.

O tipo 9, harmonizador, tem um grande medo de se posicionar, de ser ele mesmo. Os outros são mais importantes e têm medo de agir para si próprios, para seus anseios.

De uma forma bastante sintética, observa-se que cada pessoa tem um medo diferente, além dos outros tantos medos que são comuns a todos. O ponto fundamental é trabalhar no reconhecimento de quem se é, da maneira como se foi criado, o ambiente em que se viveu e se vive e os medos que se tem.

O Medo nos nossos tempos

Nesse momento, com a pandemia, talvez seja o momento de repensar e direcionar nossa energia para a coragem, sair da zona de conforto e fazer algumas mudanças internas, mas é necessário que se observe que esse é um movimento de cada um, individualmente.

Há de se controlar o medo para que não vire fobia. Agora é o momento de testar a coragem, de ter certeza que se vive um momento de grande aprendizagem, pois é nas situações desafiadoras que se pode sair mais forte. O medo pode fazer com que não se viva, pois, pelo medo da perda, não se vive plenamente o que a vida apresenta. O medo traz insegurança o que prejudica as ações de desenvolvimento.

Enfim, finalizo essas reflexões com o seguinte pensamento. Perde-se o medo quando se aprende a confiar, a ter fé, a acreditar que tudo é aprendizado. É aí que a coragem nasce, dessa ação que vem do coração, a cor (coração) agem (ação). É essa ação que vem do coração, a coragem, que faz toda diferença e impulsiona cada ser em direção ao seu destino: viver a grande viagem que só a vida pode proporcionar, uma viagem de fé e de gratidão.

Profa. Dra. Fátima Motta

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