Uma breve reflexão sobre o desejo

O desejo já foi discutido por muitos autores e eu me atrevo a fazer uma breve reflexão, nada acadêmica, mas povoada de sentimentos e pensamentos que me cutucam para que eu os liberte.

 

Freud dizia que nos movimentamos pela falta. O desejo é algo que nos move e o mais interessante é que são de vários tipos, características, proporcionam diferentes sensações, tem diversos níveis e dimensões, mas todos têm uma força que nos impulsiona.

 

Existem os desejos que são mais básicos, ligados à necessidade de subsistência, ou às vezes  à guloseima, ou até à luxúria, como por exemplo, desejo  de um chocolate, de uma xícara de café, desejo de um sorvete, de uma roupa nova etc.

 

Há os mais elaborados,  como o desejo de mais dinheiro, sucesso,  trabalho diferente, novo chefe, nova carreira.

 

Há os que fazem parte da dimensão emocional, felicidade, paz, amor, alegria, paciência, autoconfiança.

 

Há também os prazerosos, uma viagem, uma “noitada”, um barco para passear, um carro esporte.

 

Os espirituais como paz  para a humanidade,  desejo de fazer parte de algum movimento voluntário, busca por  um caminho espiritual, desejo de entender os mistérios  da vida.

 

São tantos os desejos,  mas  incrível como alguns são fáceis de serem alcançados e outros tão difíceis. Mais interessante ainda é que os mais fáceis, assim que alcançados, logo são substituídos por outros.

 

Eu nunca tinha pensado nisso, mas é mesmo assim: quando satisfazemos  um desejo, logo vem outro e mais outro. Não estou me referindo às pessoas  insaciáveis, mas a uma característica humana. Na realidade, uma característica muito saudável, porque sem ela não nos manteríamos vivos, uma vez que são os desejos movimentam nosso ser.

 

Mas há de se ter cuidado, pois às vezes desejamos o que de fato não conseguimos sustentar e, então, o desejo parece que é impossível, não porque é distante, e sim porque não conseguimos sustentá-lo.

 

Vamos a um exemplo: alguém que deseja  um emprego novo, mas quando aparece não tem coragem de deixar para trás o antigo, ou também,  quando surgem as naturais dificuldades, o  desejo passa a ser amaldiçoado.

 

Há ainda  aqueles desejos que buscamos pela vida afora – o Santo Graal – e parecem inalcançáveis, mas é exatamente o caminho, o movimento para chegar até eles que é a grande beleza, ou seja, o que de fato precisa ser observado e desfrutado. Às vezes nos esquecemos de olhar o caminho para satisfazer um desejo, visto como resultado,  e perdemos a melhor parte.

 

A simplicidade da vida em todas as dimensões não está na satisfação dos desejos,  uma vez que sempre existirão outros, mas sim no caminho que se percorre. Essa ideia não é minha, já foi trazida por vários filósofos, mas talvez só agora tenha feito sentido para mim.

 

Até um tempo atrás eu reclamava das dificuldades de satisfazer um desejo. Hoje eu aproveito cada parte do caminho, independentemente do alcance do desejo.

 

Alguns podem pensar: isso não leva a uma zona de conforto?  Não! A busca pelo que se deseja leva à zona de expansão, com um adicional: em vez de ser feliz só com o alcance do desejo, sentir-se realizado durante o caminho dá mais força, vontade e coragem para continuar a trilha.

 

Outro exemplo:  Desejo de ver a paisagem do  alto de uma colina. Se ficar feliz só quando chegar, perderá  a beleza de todo o caminho, deixando de ver as pedras, os pássaros, as árvores, o silêncio, o pulsar da mãe terra, e assim por diante.

 

Mas isso vale também para a vida, profissional? E como vale! Atendo pessoas, dou consultoria ás empresas e noto que o cansaço, a  ansiedade, a tristeza, a preocupação estão associados à dificuldade de perceber a beleza do caminho.

 

Vamos a mais uma ilustração:  um projeto, quando o foco está apenas no seu final, na entrega, perde-se a grande beleza de toda elaboração, a observação das dificuldades e das diferenças humanas, a possibilidade de reconhecer as fragilidades e as forças. Ou seja, tudo pode ser visto com alegria, curiosidade, o que estimula a ação para a transformação, seguindo-se em direção à finalização do projeto, com mais inteireza, foco e consciência.

 

Outro exemplo é a busca por resultados. Por vezes o desejo de se chegar a ao numero final é tão importante que não se aproveita, não se observa,  a beleza de tudo que foi feito para chegar lá, bem como as dificuldade e problemas que atrapalharam a chegada.

 

Então, desejo que você apenas  reflita sobre tudo isso e termino aqui, dizendo que esse desejo, que acabo de fazer está absolutamente errado. Por que? Não há nada pior do que desejarmos algo para o outro, uma vez que a ação está fora de nossa “jurisdição”, o que torna a possibilidade de frustação imensa e também não é justo desejar pelo outro, para o outro.

 

Desejo a você amor, paz, sucesso ….    Será que o outro quer? Será que consegue sustentar?

 

Então, o que podemos fazer, é apenas dar conta dos nossos desejos e torcer para que cada “humano ser”  tenha consciência, força e direcionamento para alcançar os seus inumeráveis desejos e aproveitem todo caminho dessa busca incessante.

 

Por que escrevi tudo isso?   Nesse momento satisfiz meu desejo de extravasar meu pensamento.

 

Dai para frente, é com você!

 

Profa. Dra. Fátima Motta

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