A formação de times disruptivos sob a ótica emocional – 2ª. parte

Alguns grupos são tipicamente doentes, ou seja, não apresentam avanços durante uma tarefa. Vivem em um círculo vicioso, já que sua energia produtiva está sendo canalizada para a manutenção da ‘doença’ chamada improdutividade.

Um outro lado dessa história está relacionado às ideologias, às crenças e aos valores dos integrantes do grupo. Refletem-se constantemente em todos os pensamentos conscientes e inconscientes, possuem grande carga emocional e são os responsáveis pela direção de todas nossas ações e relações.

Apesar de cada pessoa tratá-los como resultados de um raciocínio puramente lógico, freqüentemente o que ocorre é a existência de um significado interno, construído a partir das experiências afetivas desde a infância e que refletem, mais tarde, no seu comportamento, muitas vezes de maneira inconsciente.

Como exemplo, podemos citar alguém que enxerga no time a possibilidade de realização, crescimento e amadurecimento pessoal. Outra pessoa, do mesmo grupo, pode enxergá-lo apenas como forma de projeção pessoal. Ambos os pensamentos podem levar o time à estagnação, já que os dois cristalizam-se em posições rígidas face à uma questão qualquer relacionada à tarefa.

São as ideologias, valores e crenças que constroem os comportamentos estereotipados, limitando a criatividade e criando uma visão viciada, impedindo a construção de novas soluções. Quando rompido o estereótipo, o grupo se transforma em um time aberto a novas descobertas, onde teoria e prática se integram, construindo uma força criativa no próprio campo de trabalho.

Para “curar” o grupo e transformá-lo em um time verdadeiramente produtivo, é preciso considerar e trabalhar profundamente os sentimentos universais que Enrique Pichon-Riviére, psicanalista argentino, destacou como atuantes em qualquer grupo que venha a se formar frente a situações novas:

  • medo da perda da estrutura anterior;
  • medo de ser atacado e de não dar conta da nova situação;
  • medo e resistência à mudança;
  • sentimento básico de insegurança;
  • resistência às novas aprendizagens e comunicações.

Especialmente neste novo momento, esses medos e sentimentos de insegurança e resistência aparecem em cada novo projeto ou situação onde o imaginário corre solto nas possibilidades de demissão, rejeição ou humilhação pelos possíveis “gaps” de competência.

Assim, é necessário possibilitar um “enraizamento”, ou seja, tirar o time da superficialidade da tarefa e aprofundá-lo em questões referentes ao conteúdo emocional. Isso implica em:

 
  • esclarecer o conteúdo implícito, trazendo à tona todas as emoções referentes à equipe em determinada tarefa;
  • discutir e “limpar” essas emoções;
  • reconhecer a ideologia e valores de cada membro do time;
  • estabelecer uma visão, ideologia, crenças e valores integrados
    na tarefa específica;
  • valorizar e respeitar as diferenças individuais;
  • construir uma rede de confiança e de cumplicidade

Da mesma forma que o conhecimento técnico é valorizado, quando se fala em times, o desenvolvimento da sensibilidade é fator-chave para o sucesso.

Administrar conflitos é outro grande desafio, no qual a imparcialidade é crucial para que se mantenha a coesão do time O líder nunca deve expor algum membro do time isoladamente. Qualquer problema deve ser tratado como um tema do coletivo e não como uma questão individual.

Talvez o ponto alto seja a capacidade de flexibilizar o poder e a liderança. Reconhecer que o conhecimento e o saber individuais são limitados e que, no time, ampliam-se a ponto de construir uma sinergia tão enriquecedora para todos, na qual o não saber é tão importante quanto o saber, porque é no não saber que reside a criatividade. Isso tudo nos leva a compreender que a convivência é tão importante quanto a realização da tarefa, uma vez que é a convivência que dá significado à existência de todo ser humano.

E é exatamente isso que a Liderança 4.0, a liderança que preza as equipes disruptivas, a quebra da hierarquia e dos locais intocáveis do saber, precisa, para que não só o profissional isoladamente alcance seus objetivos, mas a equipe caminhe em direção a algo que faça sentido para todos, com a preocupação de co-laborar e de não deixar ninguém para trás.

Profa. Dra. Fátima Motta

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