Cinco promessas de início do ano que todo executivo faz e nunca cumpre

Durante estes 29 anos de trabalho junto a executivos, ouvi algumas promessas sendo feitas na “virada” que nunca foram cumpridas. Talvez você já as tenha feito e tomara que seja um dos poucos que conseguiram ir à frente com elas.

A primeira é: Equilibrar a vida pessoal e profissional – a partir do próximo ano, vou trabalhar apenas 8 horas por dia, vou chegar em casa, desligar o celular, não levar trabalho para fazer à noite e dar atenção total à minha família. 

A segunda é: Cuidar da saúde física – a partir do próximo ano vou fazer um check up, vou me matricular numa academia, vou contratar um personal, vou correr, vou nadar, vou eliminar os pesinhos a mais que ganhei no último ano… vou ficar em forma.

A terceira é: Cuidar da ansiedade – a partir do próximo ano vou evitar ficar irritado(a) com qualquer coisa, não vou ficar ansioso(a), vou respirar, fazer meditação, pensar em outra coisa quando começo a ficar ansioso(a), vou fazer terapia.

A quarta é: Dizer o que pensa – a partir do próximo ano não vou mais me submeter ao que os outros querem. Vou começar a me posicionar, a dizer o que penso, não vou sair de uma reunião com coisas entaladas na minha garganta e não vou aceitar que as pessoas me humilhem ou me façam passar por qualquer situação desagradável.

A quinta é: Priorizar o que é importante – a partir do próximo ano, só vou fazer o que de fato é importante. Vou delegar o que não devo fazer e vou deixar de lado as solicitações que não fazem sentido ou que me tiram da rota certa. 

E aí vem a pergunta: por que algumas ou todas essas promessas ficam no esquecimento e só são lembradas no início do próximo ano? Talvez porque falte nelas um ponto que entendo como o mais importante: o real desejo de concretizar essas promessas, não para o outro, mas para si próprio.

Não adianta querer equilibrar a vida pessoal e profissional, apenas para não ter problemas em casa. Na realidade, para muitos executivos, ficar no trabalho até mais tarde é uma grande possibilidade de não “arranjar encrenca” em casa. Portanto, é apenas o desejo verdadeiro de viver esse equilíbrio e não algo que é imposto de fora para dentro é que torna mais possível a concretização dessa promessa.

E assim também se pode falar da saúde física. Muitas vezes o(a) executivo(a) se vangloria de nunca ter precisado ir ao médico. Ora, se esse é um valor, como vai se dispor a fazer um check up? Outro ponto muito em voga é que “não cai bem” ficar afastado em função de alguma doença ou ainda fazer um exame em dia e horário de expediente. Assim, o valor está em trabalhar e ser presente em tudo e não estar ausente e ir ao médico, ou ir à academia. E, como se trabalha muito, é normal um grande desgaste de proporções que impactam tanto a saúde física, mental como a emocional que ficam sem ser olhados por conta do valor externo que se sobrepõe à promessa de cuidar da saúde e justifica-se a falta de tempo para qualquer coisa que não seja o trabalho ou seus derivados, com a seguinte argumentação: e se eu não pagar as contas… como ficam as coisas? No entanto, se sabe que as contas serão pagas, sim, e bem pagas, mesmo se for destinada uma parte do tempo para o cuidado pessoal. O problema não está no trabalho e sim onde se coloca valor…. o resto é desculpa.

Podemos continuar fazendo o mesmo raciocínio para a falta de cuidado com a ansiedade, com o nervosismo. E aí o desejo egóico de estar sempre certo(a), de ter sempre razão, de ter grande dificuldade de lidar com a frustração e com o fracasso toma conta do(a) profissional, gerando ansiedade e nervosismo. Por incrível que pareça, querer que tudo aconteça da forma como queremos, é tão infantil quanto a criança que quer tudo do seu jeito e fica emburrada quando algo sai diferente. Outro ponto típico de quem não consegue conter a ansiedade é a necessidade de controlar tudo e a dificuldade para entender que existem coisas que não estão sob nosso domínio. Mas, como se livrar de tudo isso sem a vontade genuína de investir em autoconhecimento? Sem dedicar um tempo expressivo e recursos para entender o motivo da ansiedade e do nervosismos? E talvez, aqui, principalmente, a mentalidade focada em resultados imediatos é outro impedimento para a realização dessa promessa… Autoconhecimento? Terapia? Análise? Leva muito tempo… Talvez mais para frente….

E aí chega-se ao ponto de sermos assertivos e dizer o que se pensa… mas… e se meu chefe não gostar? E se meus pares me entenderem mal? E se eu for mal avaliado pelo conselho e mal entendido pelo CEO? É melhor concordar e não falar o que penso… menos risco… mais segurança… mais conforto…Talvez porque não tenha aprendido a o significado do respeito e mais profundamente do auto respeito. E então, é melhor respeitar o outro e não me respeitar, assim como aprendi a abaixar a cabeça para a autoridade que colocasse minha vida em risco… Como cumprir uma promessa que coloca minha vida em risco? Impossível!!!

Mas tudo isso poderia ser amenizado se a última promessa fosse cumprida, ou seja, se houvesse a possibilidade de delegar mais, de priorizar mais, de fazer o que de fato importa… mas… e se eu delegar e meu colaborador acabar se tornando melhor que eu? Se ele for na reunião apresentar um trabalho e tiver mais destaque do que eu? Como fica meu ego? Como eu me sinto? Bem, espero que para muitos esse problema não ocorra, mas talvez possa ocorrer a falta de tempo para treinar, desenvolver, afinal, ninguém faz melhor que você. E, por outro lado, você dá conta das tarefas antigas e das novas… Depois termina em casa o que ficou para trás. Bem, e essa coisa de se atualizar, fazer cursos, pensar de forma estratégica? Na verdade, nem sabe muito bem por onde começar. Pedir ajuda não é uma opção, assim, vamos deixar para lá mais essa promessa…

Assim, parece que tudo se encaixa e tem sempre a mesma raiz:  as crenças e os valores internos.

E aí vem um daqueles chavões que eu odeio, mas que não dá para não citar… “nada muda se você não muda”.

Mas o que não é chavão e é na realidade um grande segredo é que a mudança começa dentro e não fora. Cada promessa para o Ano Novo não pode ser motivada por algo externo, seja porque é moda, seja porque a cultura da empresa exige, seja porque o pipeline sugere. Toda promessa depende fundamentalmente de um desejo interno, de algo que move nossa alma, que nos apaixona, que nos faz vibrar pela simples possibilidade de imaginar sua realização.

Assim, para que seu Ano Novo não seja mais uma vez coroado de promessas não cumpridas, antes de fazê-las, examine-se, olhe-se, pergunte-se:

– O que de fato eu quero?

– Estou disposto(a) a pagar o preço do que quero alcançar?

– Eu enxergo benefícios claros para mim?

– Sinto meu corpo se entusiasmar por essa promessa?

Se sim, vá em frente, se não…. repense… pense…e, a propósito,  nada de mal irá lhe acontecer se você começar o Ano ….pensando no que realmente faz sentido ….. 

Se fazer tudo isso sozinho for muito difícil, lembre-se que sempre é possível contar com ajuda externa, de profissionais especializados, não para lhe dizer o que deve fazer, mas para lhe ajudar a pensar… sim, essa preciosidade que é … Pensar…. Pensar nas promessas que quer fazer a você mesmo(a) e, mais do que pensar e fazer promessas, realizar algo que possa ajuda-lo(a) a caminhar na direção que entende ser sua estrada de evolução.

Profa. Dra. Fátima Motta

Coach, Palestrante, Consultora em Desenvolvimento Humano.  

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