Ser “líder coach” é reconhecer o papel de responsável por orientar e desenvolver a equipe. É, acima de tudo, entender que ensinando se aprende e que a capacidade de ensinar está diretamente ligada à competência de doação e ao respeito pelo valor do ser humano.
Quando se desenvolve a capacidade de ser “líder coach” dá-se um passo a mais na direção da completude do sentido de ser líder, pois, além do foco em resultado, consegue-se praticar o ser mestre e preparar talentos e sucessores.
Mas antes de prosseguirmos, talvez seja interessante retomar alguns aspectos que, na maioria das vezes, geram questionamentos.
Como e quando surgiram os primeiros coachs? Sempre existiram, eu diria. Sempre os humanos precisaram de alguém para ajudar a entender onde queriam chegar e como chegar. Sendo assim, nossos pais, mestres, orientadores foram nossos primeiros coaches, mas, bem sabemos que muitos dos conselhos dados não foram seguidos, pelo simples fato de que “saíam” deles e não de nós. No entanto, havia aqueles que não davam conselhos, faziam perguntas e, esses, sim, eram os verdadeiros coaches, porque faziam pensar e descobrir o melhor caminho, de dentro para fora.
Outra pergunta importante: qual a diferença entre coach e “líder coach”? O coach estabelece uma relação de parceria e conduz o coachée (aquele que recebe o coaching) de uma situação inicial a outra, a um sonho, a um diferente patamar de desenvolvimento. ” Líder coach” é o líder que se utiliza das ferramentas do coaching para conduzir sua equipe, o que podemos dizer que é um estágio elevado da liderança, é um líder treinador. O “coach” não precisa ser o líder direto do coachée. Pode ser um profissional contratado, especializado para esse processo, como também um profissional de outra área que tenha se desenvolvido para ser coach. O que quero dizer é que há e precisa haver, pela seriedade deste processo, uma formação bastante extensa e séria a ser feita, e só após isso, o profissional pode atuar como “coach” ou “líder coach”.
Interessante nesse processo é que a parceria entre coach e coachée é real e efetiva somente quando o coach, por um lado, de fato se isenta de julgamentos e torce pelo sucesso do coachée. Por outro lado, a necessária contrapartida é a dedicação do coachée, com o máximo de abertura possível, para querer a transformação, sair da sua zona de conforto e ir além.
Talvez outra pergunta esteja dando voltas na cabeça do leitor. Em que situações vale a pena o processo de coaching? Aqui vai a resposta: quando se quer discutir e/ou incrementar a carreira, quando se sabe que para alcançar outro patamar profissional há necessidade de desenvolvimento que está além dos bancos de MBA, quando há travas pessoais que impedem o alcance de um objetivo, quando não se sabe exatamente o que se quer, quando é necessário o desenvolvimento de alguma competência específica, quando é necessário melhorar o relacionamento, quando a liderança precisa ser incrementada, enfim, quando o apoio de outro ser humano pode ajudar no alcance de uma meta. Ou seja, o coach é aquela pessoa que verdadeiramente quer que o coachée cresça e seja feliz.
Então, existe coach executivo, de carreira e pessoal. Particularmente, conheço mais o coach executivo e de carreira e é com ele que atuo há mais de 20 anos. É claro que, quando se fala em “líder coach” está se falando no coaching voltado para questões profissionais.
Entendo e vivo um processo muito bonito em cada coaching que dou. Cresço com cada coachée e entendo claramente que é um processo de aprendizado tanto para o coach como para o coachée.
Nunca saí de um processo igual à forma como entrei, assim como nunca um coachée saiu de um processo igual a como entrou. O que mais me encanta em tudo isso é a ampliação de consciência que acontece. As coisas vão ficando mais claras, fáceis, tangíveis e a pessoa mais forte para ir atrás do que realmente quer.
Tudo começa com a definição do objetivo e, através de perguntas, o coach conduz o coachée a realizar tarefas que o aproximem do que deseja. Então, o coaching não é apenas uma conversa, mas tem lição de casa o tempo todo, exatamente para que o coachée vá construindo seu caminho e chegue, através de novas práticas, ao objetivo desejado.
São reuniões previamente definidas, quinzenais ou semanais, de uma hora cada, com data de início e de término, onde fazer as perguntas certas, provocativas é a maior arte do coach. Essas reuniões fazem parte de processos de coaching que chamo de coaching processual.
Já o coaching pontual, dado pelos líderes, por exemplo, a partir de um feedback, pode acontecer de uma única vez, mas também se baseia em perguntas inteligentes. Todo líder que quer desenvolver sua equipe não dá respostas, mas faz perguntas. Perguntas inteligentes, desafiadoras, onde a pessoa que as responde se sente poderosa por ter conseguido uma solução que saiu de dentro dela. Aí está o método socrático maiêutico do coaching, onde se vale da técnica ancestral de Sócrates: perguntas que faziam os discípulos pensarem e, assim eram desenvolvidos de forma majestosa.
Para isso tudo, muitas competências precisam ser desenvolvidas pelo coach, mas uma em especial, preciso mencionar: a capacidade de escutar. Desenvolver a escuta, a escuta ativa, que simplesmente coloca toda a atenção em quem fala, para parafrasear e continuar investigando, garimpando. A escuta ativa garante que o caminho que está sendo trilhado seja efetivamente o caminho da transformação, tão necessário para o desenvolvimento do coachée.
Finalizando para não cansar o leitor, mas deixar um gostinho de “quero mais”, afirmo que compaixão e amor pela dualidade e imperfeições humanas foi parte significativa do que aprendi e ainda aprendo, enquanto coach. Sem essas irmãs gêmeas, primas da escuta ativa, não seria possível ser “coach”.
Profa. Dra. Fátima Motta