Como conectar a Emoção à Razão

O mundo corporativo ainda é muito masculino e disso não temos a menor dúvida. Se lembrarmos como os homens são valorizados desde os mais remotos tempos, saberemos que a força, a coragem, o destemor e a insensibilidade fizeram parte da vida dos grandes guerreiros, dos reis e imperadores. Assim, podemos começar a pensar nesse tema tão importante para os seres que se dizem humanos.

 

O mundo sem emoção é um mundo sem movimento, uma vez que nos movimentamos por conta das emoções. A própria palavra e-moção, fala da moção, do movimento. Assim, emocionar-se significa movimentar-se em direção a algo ou a alguém. Nada seria conquistado sem emoção. Nenhum resultado seria alcançado se as emoções não fizessem parte da conquista.

 

Nenhum empreendimento seria iniciado se não houvesse entusiasmo e paixão. Nenhum relacionamento humano existiria se a emoção não o conduzisse para encontros.

 

Raiva, Tristeza, Alegria e Medo são as emoções primárias que fazem parte inerente da vida de todos nós e são responsáveis por nossa existência, de alguma forma. Uma pessoa, sem medo, acabaria por se arriscar até perder a vida. Sem raiva, a coragem não aparece e a tristeza nos leva ao nosso interior de forma profunda. A alegria faz com que consigamos comemorar a própria vida.

 

Claro que estes simples aspectos não têm nem de longe a intenção de esgotar um assunto tão importante, muito pelo contrário, mas apenas introduzir a questão das emoções no ambiente corporativo.

 

Em uma sessão de coaching, atendi uma executiva que dizia não se sentir valorizada ao dar opiniões aos seus colegas, mesmo que de grande valia. Sentia-se não ouvida. Ao perguntar mais profundamente sobre esse aspecto, essa executiva contou-me que tinha uma facilidade incrível em sentir empatia pelos outros de tal forma que se emocionava frequentemente, tanto pelos aspectos positivos quanto pelos negativos que lhe eram confidenciados, diga-se de passagem, desde a faxineira até o analista da área.

 

Suas amigas também lhe confidenciavam segredos, dos quais, na maioria tristes, faziam-na ficar muito mal, sem energia e deprimida.

 

Este é um caso de profunda capacidade empática, seguida de sentimentos e emoções nada superficiais. Ou seja, essa executiva era contaminada por todas essas emoções e as pessoas a viam como alguém muito sensível, que se emocionava por qualquer coisa, por isso não muito competente. É incrível como nesse mundo que estamos, sensibilidade, empatia e emoção são vistas como antagônicas à competência. Talvez porque, reportando-nos aos tempos mais antigos, emoções de afeto e tristeza eram para os fracos. Empatia… nem pensar! Como sentir empatia por alguém que seria torturado, escravizado ou explorado? Impossível!!! De qualquer forma, o mesmo se aplica a questões ligadas ao mundo atual, onde as pessoas também são pressionadas e às vezes sentem-se “torturadas” pelo excessivo foco em resultados.

 

E assim, essa executiva aprendeu que, ao ser muito sensível e empática em demasia, passava a ser vista como incompetente.

 

O que fazer? Não gostaria de dar aqui nenhuma resposta fechada, mas apenas provocar uma reflexão: emoções sem controle, sem gestão, podem ser muito nefastas tanto para a vida pessoal como para a vida profissional. É verdade que esse mundo masculino ainda não consegue aceitar muito bem a presença das emoções no trabalho, embora elas estejam o tempo todo presentes. Mais uma vez, cabe aqui pensar na importância da gestão emocional, ou seja, cuidar para que a razão também esteja presente, sem neutralizar a importância das emoções como motor condutor para tudo que se faz. Ou seja, estamos falando da importância do equilíbrio entre razão e emoção.

 

Como fazer isso? Cada pessoa tem uma forma de conectar a emoção com a razão. Um jeito que eu mesma utilizo tem alguns passos que aproveito para compartilhar com vocês:

 

  • Identifico quando a emoção fica mais presente, através da observação das minhas reações corporais;
  • Reconheço qual a emoção que se apresenta na situação;
  • Pergunto a mim mesma o que eu de fato penso em relação à situação;
  • Entendo o que é dessa situação relacionado às minhas dificuldades;
  • Levo esse raciocínio à emoção e consigo ter uma apreciação mais clara da situação. A isso eu chamo gestão emocional.

 

Ajuda também não falar de forma impulsiva ou se expressar de qualquer forma sem antes pensar. Às vezes vale a pena dar um tempo, ir tomar um café, ir à toilette, sair para dar uma volta.

 

Mas o que mais faço é entrar em empatia com a pessoa ou situação, sem me misturar nela a tal ponto de não enxergar a realidade. Eu me pergunto: por que essa pessoa está pensando, agindo ou reagindo dessa forma? Do que ela tem medo? Do que eu tenho medo? Isso realmente importa? Será que se essa situação, daqui há 5 anos vai continuar sendo importante?

 

E a pergunta mais fantástica que eu aprendi foi: e se eu morresse amanhã, isso seria um problema?

 

E assim, com esses diálogos internos, a emoção fica no seu lugar, sem desaparecer, mas com a força da realidade e não do exagero ou da ilusão.

 

Talvez essa seja uma forma interessante para que honremos cada emoção que nos faz viver, mas também cuidar para que sejam apropriadamente vividas, a nosso favor e da situação. Muitas vezes percebo que essa é uma forma inteligente de levarmos razão às emoções.

 

Se você gostou dessa reflexão ou se pensa algo diferente ou complementar, comente e compartilhe.

 

Profa. Dra. Fátima Motta

 

 

 

 

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