Estamos vivendo um tempo em que a ansiedade é considerada o mal do século e os medicamentos se multiplicam diariamente, na tentativa (às vezes não bem sucedida), de controla-la.
Nesse momento, tenho o seguinte pensamento: interessante como sempre queremos pílulas mágicas para resolver nossos problemas e, ainda, sempre procuramos no externo algo que é interno.
Um dos problemas é que nos distanciamos tanto de nós mesmos, que sempre recorremos ao que está fora de nós, porque desconhecemos o que está dentro.
Mas vamos entender melhor esse terrível mal com o qual convivemos e que, por incrível que pareça, é algo natural e necessário.
O que é ansiedade?
A ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações percebidas como ameaçadoras ou desafiadoras. Envolve sentimentos de preocupação, nervosismo, apreensão e tensão, muitas vezes acompanhados por sintomas físicos como aumento da frequência cardíaca, sudorese, tremores e sensação de “borboletas no estômago”.
Será que a ansiedade é sempre ruim? A resposta é negativa. Ou seja, sentir ansiedade é muito bom para que estejamos preparados para lidar com situações difíceis, melhorando a concentração e a resposta a ameaças ou desafios reais. Por exemplo, toda vez que vou dar uma aula, ou palestra, ou mesmo um treinamento, sinto um pouco de ansiedade, algo produtivo que faz com que meus centros de inteligência estejam direcionados para o objetivo em questão e que eu não relaxe, deixando a imaginação tomar conta da minha mente.
No entanto, a ansiedade se torna problemática quando é intensa, persistente e desproporcional à situação real. Por exemplo, se eu sentir muita ansiedade antes de uma aula, ou palestra, ou treinamento, posso entrar em pânico e ficar paralisada. Ou seja, a ansiedade acima do normal pode interferir significativamente na vida cotidiana, prejudicando o bem-estar emocional, a saúde mental e até mesmo a funcionalidade geral. Existem vários transtornos de ansiedade reconhecidos pela psicologia, como transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno do pânico, fobias, transtorno de ansiedade social e transtorno de estresse pós-traumático.
Por que sentimos ansiedade?
Sentimos ansiedade porque reconhecemos como ameaçadora ou desafiadora uma determinada situação e temos uma reação de luta ou fuga, como todo animal experimenta. Quando nos deparamos com uma situação estressante, o cérebro ativa uma série de processos que resultam em mudanças fisiológicas e emocionais. A liberação de hormônios como a adrenalina e o cortisol aumenta a frequência cardíaca, dilata as vias respiratórias e direciona o fluxo sanguíneo para os músculos, preparando o corpo para reagir rapidamente.
É uma sensação ótima, quando proporcional à situação, porque nos leva para uma zona de ganho e expansão de competências. No entanto, a exposição constante a informações, o ritmo acelerado da vida e as expectativas elevadas podem contribuir para um aumento do estresse e da ansiedade, porque podemos entender que não vamos dar conta de tantas informações, tantas cobranças, que não temos capacidade para isso e precisamos fugir de alguma forma. Duvida-se da competência, superestima-se a necessidade de atender às necessidades dos outros e não se consegue dar limite à nossa mente, às vezes entrando em um looping de pensamentos e sentimentos misturados, que reforçam a ansiedade, transformando um fato real em algo imaginário, caminhando para uma ilusão normalmente superdimensionada.
Que tipo de pessoa está mais predisposta a sentir ansiedade excessiva?
Não existe um único tipo de pessoa que está mais propensa a sentir ansiedade, mas certos fatores podem aumentar a probabilidade de desenvolver transtornos de ansiedade. Alguns desses fatores incluem:
- Histórico Familiar: Ter parentes de primeiro grau, como pais ou irmãos, com histórico de transtornos de ansiedade pode aumentar a predisposição, sugerindo uma influência genética.
- Genética: Estudos sugerem que algumas características genéticas podem estar associadas a uma maior suscetibilidade aos transtornos de ansiedade.
- Biologia: Desequilíbrios nos neurotransmissores, substâncias químicas do cérebro que regulam o humor e a emoção, podem estar relacionadas a transtornos de ansiedade.
- Personalidade: Pessoas com traços de personalidade como perfeccionismo, tendência ao pessimismo, autocrítica intensa e baixa autoestima pode ser mais propensas à ansiedade.
- Histórico de Trauma: Experiências traumáticas na infância ou na vida adulta, como abuso, violência ou eventos estressantes, podem aumentar o risco de desenvolver ansiedade.
- Estresse Crônico: Ambientes com níveis elevados de estresse, pressão constante e demandas excessivas podem contribuir para o desenvolvimento da ansiedade.
- Transtornos Psicológicos Comórbidos: Transtornos de ansiedade frequentemente coexistem com outros transtornos mentais, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
- História de Problemas de Saúde Mental: Pessoas que já enfrentaram episódios anteriores de ansiedade ou outros transtornos mentais podem estar em maior risco.
- Uso de Substâncias: O uso abusivo de álcool, drogas ilícitas ou medicamentos pode aumentar a vulnerabilidade à ansiedade.
- Fatores Ambientais: Crescer em um ambiente com poucas estratégias de enfrentamento saudáveis, falta de apoio emocional ou exposição frequente ao estresse pode influenciar o desenvolvimento da ansiedade.
No entanto, mesmo apresentando esses fatores, uma pessoa pode não sentir ansiedade excessiva. Ou seja, esses riscos não são determinantes.
Como a ansiedade se mostra no mundo corporativo?
No ambiente corporativo pressões, demandas e expectativas geram muita ansiedade, que são assim observadas:
- Estresse Elevado: Levam a um estado de tensão constante.
- Preocupação Excessiva: Pessoas ansiosas no ambiente corporativo tendem a ficar excessivamente preocupadas com projetos, prazos, reuniões e desempenho, mesmo quando essas preocupações são desproporcionais à situação.
- Procrastinação: A ansiedade pode levar à procrastinação, onde as pessoas evitam tarefas ou projetos devido ao medo de não conseguir atender às expectativas.
- Dificuldade em Tomar Decisões: A ansiedade pode tornar as decisões mais desafiadoras, pois a pessoa pode ficar paralisada pelo medo de tomar a decisão errada.
- Sintomas Físicos: Batimentos cardíacos acelerados, sudorese, tremores, dor de cabeça e desconforto gastrointestinal.
- Perfeccionismo Excessivo: Indivíduos ansiosos podem se esforçar demais para alcançar a perfeição em suas tarefas, muitas vezes definindo padrões inatingíveis para si mesmos.
- Dificuldades de Concentração: A ansiedade pode interferir na capacidade de concentração e foco, dificultando o desempenho eficiente das tarefas.
- Medo de Avaliação: Pessoas ansiosas podem temer críticas ou avaliações negativas por parte dos colegas, supervisores ou clientes, o que pode impactar sua autoconfiança.
- Isolamento Social: A ansiedade pode levar ao isolamento social no ambiente de trabalho, com indivíduos evitando interações sociais devido a preocupações sobre o que os outros pensam.
- Burnout: A ansiedade crônica e o estresse constante podem contribuir para o esgotamento profissional, conhecido como burnout, resultando em exaustão física e emocional.
- Síndrome do Impostor: Pessoas com ansiedade muitas vezes subestimam suas próprias habilidades e conquistas, acreditando erroneamente que são inadequadas ou que não merecem o sucesso alcançado.
O que fazer para lidar com a ansiedade?
O primeiro passo é se dar conta que a ansiedade está sendo acima do normal e está prejudicando a própria vida. O segundo passo é fazer uma autoavaliação par entender o que está fazendo de errado com o próprio corpo, mente e emoções.
E como terceiro e mais importante passo, escolher as ações mais adequadas à sua individualidade, não se encarcerar em algo destrutivo. No entanto, vale dizer, que, infelizmente, algumas pessoas se colocam em uma posição de vítima e não querem agir, até como uma forma inconsciente de chamar a atenção das pessoas mais próximas.
Vejamos algumas ações para gerenciar os sintomas, melhorar o bem-estar emocional e promover uma qualidade de vida saudável.
- Aprenda a Dizer Adeus à Perfeição: Aceite que ninguém é perfeito e que é normal cometer erros. Redefina suas expectativas para algo mais realista.
- Controle e exclua da sua mente as emoções negativas: Toda vez que pensamos em algo negativo, nosso cérebro começa a desenvolver uma estória que piora cada vez mais a situação e, com ela, a ansiedade também.
- Aceitação: Entenda que as coisas são como elas são e não como gostaríamos que fossem. O mundo não é perfeito e, sim, apresenta dualidade.
- Limite suas expectativas: Não espere demais de qualquer situação ou pessoa. Entenda que cada um é o que consegues ser e não o que você gostaria que fosse.
- Não assuma para você problemas que não são seus: Às vezes o problema não é nosso e o assumimos de tal forma, que a preocupação aumenta demasiadamente, até porque a solução não está em nossas mãos. Fique apenas com o que é seu.
- Se o problema é insolúvel, deixou de ser um problema, é um fato. Sendo assim, se é um fato, não há motivo para se preocupar ou ficar com ansiedade. Apenas lide com o que é.
- Limitar Exposição a Notícias e Redes Sociais: A constante exposição a notícias negativas e estressantes pode aumentar a ansiedade. Defina limites saudáveis para essa exposição.
- Redução do Estresse: Praticar técnicas de gerenciamento de estresse, como organização, planejamento e resolução de problemas, pode ajudar a aliviar a ansiedade.
- Estabelecimento de Rotinas: Manter rotinas regulares pode trazer sensação de estabilidade e controle, o que pode ser reconfortante para pessoas com ansiedade.
- Escrita Terapêutica: Manter um diário ou escrever sobre seus sentimentos pode ser uma maneira eficaz de processar emoções e preocupações.
- Exercícios Físicos Regulares: A atividade física regular libera endorfinas, substâncias químicas que melhoram o humor, e também ajuda a aliviar o estresse e a ansiedade.
- Foque no presente: Aprender técnicas de mindfulness e meditação pode ajudar a acalmar a mente e a focar no presente, reduzindo os sentimentos de ansiedade.
- Respiração Profunda: Praticar exercícios de respiração profunda pode reduzir imediatamente a sensação de ansiedade, promovendo a calma.
- Alimentação Balanceada: Uma dieta saudável pode influenciar positivamente o humor e a saúde mental. Evite excesso de cafeína e açúcar, que podem aumentar a ansiedade.
- Sono Adequado: Priorizar o sono adequado é fundamental para o funcionamento cognitivo e emocional saudável. Crie um ambiente propício ao sono e mantenha horários regulares.
- Estabeleça Limites: Saiba quando dizer “não” a tarefas extras e compromissos que possam sobrecarregar você.
- Técnicas de Relaxamento: Explore técnicas como ioga, tai chi, massagem ou banhos relaxantes para aliviar o estresse e a ansiedade.
- Técnicas de Reestruturação Cognitiva: Aprender a desafiar pensamentos distorcidos e substituí-los por pensamentos mais realistas pode ajudar a reduzir a ansiedade.
- Atividades Relaxantes: Envolver-se em hobbies e atividades que tragam prazer e relaxamento, como ler, ouvir música, cozinhar ou jardinagem.
- Redes de Apoio Social: Mantenha contato com amigos e familiares, compartilhando seus sentimentos e buscando apoio emocional quando necessário.
- Busque Apoio Profissional: Um terapeuta ou psicólogo pode ajudar a identificar padrões de pensamento negativos e a desenvolver estratégias de enfrentamento.
Se você é uma pessoa muito ansiosa, que percebe em seu corpo os efeitos nocivos dessa emoção, escolha pelo menos 3 ações e comece a colocá-las em prática agora, nesse exato momento.
E, acima de tudo, deixe de querer que o mundo seja como você gostaria que fosse e apenas agradeça o que as coisas são, com os pontos positivos e desafios e utilize a ansiedade para desfrutar cada lindo momento que a vida oferece.
Por outro lado, se você percebe que lida bem com a ansiedade, desfrute-a, porque, provavelmente ela lhe conduz a uma interessante expansão na forma de ver a vida. A ansiedade pode mostrar que existem outros pontos de vista para a mesma questão, que a perfeição é interessante, mas efetivamente não existe, que é bom sentir um friozinho na barriga, porque dá mais foco e até entusiasmo e que, acima de tudo, quem está no controle das emoções é você, com sua autoestima, autocontrole e autoliderança voltados para seu crescimento e evolução.
Ou seja, a ansiedade não é uma vilã. Pelo contrário, é uma força que, se bem utilizada, pode ajudar imensamente para que nossa vida seja bem vivida, no aqui e no agora.
Profa. Dra. Fátima Motta
Consciência Emocional é o maior desafio para os humanos seres que somos. É ela que nos diferencia dos animais e, pela dificuldade de construí-la, talvez seja o que gera maior problema nos relacionamentos, sejam eles profissionais ou pessoais.
As palestras, programas e mentorias que desenvolvemos têm sempre como objetivo fornecer ferramentas, metodologias e caminhos, para que você possa lidar com suas emoções de forma a gerenciá-las, criando e mantendo relacionamentos saudáveis, bem como tomando decisões acertadas.
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