Cuidados para Evitar a Exaustão ao Longo do Ano

O objetivo de escrever esse artigo é porque quero que eu e você cheguemos ao final do ano sem dizer as mesmas coisas:  “não aguento mais… não vejo a hora de acabar o ano… estou exausto(a)”. Será que não existem maneiras para se chegar ao final do ano triunfantes, cheios de energia, comemorando com entusiasmo seja lá o que conseguiu conquistar? Pelo menos sendo feliz em estar vivo(a)?

 

Para chegar a esse final (que na realidade é o começo de um novo ciclo…), fundamental processo de construção deve ser feito no aqui e agora, nesse momento. Assim, precisamos entender melhor o que é exaustão e por que ela aparece na nossa vida, como uma convidada indesejada.

 

De uma maneira geral, achamos que a exaustão acontece porque trabalhamos demais, colocamos muito esforço no que fazemos. Em parte, é verdade, mas não é completa essa maneira de enxergar a Exaustão.

 

No mundo corporativo altamente competitivo e acelerado de hoje, profissionais enfrentam desafios sem precedentes que podem levar à exaustão. A exaustão, um estado de esgotamento físico e mental, não é apenas prejudicial à saúde individual, mas também pode impactar negativamente a produtividade e o sucesso de uma organização.

 

Os sintomas da exaustão são bem conhecidos: sentimento de esgotamento extremo, redução da eficácia e despersonalização, além de fadiga crônica, insônia, irritabilidade, dificuldades de concentração, ansiedade e depressão. Para executivos, a pressão constante por resultados, longas horas de trabalho e a necessidade de tomar decisões críticas sob estresse podem ser fatores contribuintes significativos. Mas, de uma maneira geral, o volume de informações, o excesso de cobranças nos vários papeis que assumimos, os perigos pelos quais passamos em questões de segurança, são também fatores que ajudam esse processo danoso pessoal e profissionalmente.

 

Fatores Contribuintes Específicos para Executivos

 

Executivos frequentemente enfrentam pressões exclusivas, incluindo:

 

  • Altas Expectativas de Desempenho: A necessidade de atender ou superar metas constantemente.
  • Tomada de Decisão Sob Pressão: Fazer escolhas críticas que afetam a empresa, empregados e stakeholders.
  • Isolamento Profissional: Frequentemente, executivos se encontram isolados em suas funções, sem espaço para compartilhar preocupações ou buscar apoio.

 

 

Aprofundando o olhar sobre o tema

 

A exaustão, do ponto de vista da neurociência, é um fenômeno complexo que envolve diversos sistemas do cérebro e do corpo. Ela não se limita apenas ao cansaço físico, mas também inclui aspectos emocionais e cognitivos. Ou seja, o cérebro determina em grande parte a exaustão, porque é como se ele ficasse sobrecarregado de tal maneira que não dá conta de continuar processando tudo que aparece. Vamos entender um pouco mais.

 

Sistema Nervoso Central e Exaustão

 

O cérebro desempenha um papel central na percepção e gestão da exaustão. Áreas como o córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento, tomada de decisões e controle de impulsos, podem ser sobrecarregadas devido ao estresse prolongado ou sobrecarga de trabalho. Isso pode levar a um estado de fadiga cognitiva, afetando a capacidade de concentração, memória e tomada de decisões.

 

Essa afirmação nos faz entender que a exaustão está intimamente ligada com a forma como percebemos os fatos que nos circundam, as pressões e as tomadas de decisões que fazem parte ou não das nossas responsabilidades.

 

Resposta ao Estresse e Esgotamento

 

O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) é crucial na resposta do corpo ao estresse. Quando estamos sob estresse, o corpo libera hormônios como cortisol e adrenalina. Embora úteis no curto prazo, a exposição prolongada a esses hormônios pode levar a problemas como fadiga adrenal, onde o corpo tem dificuldade em gerenciar o estresse e recuperar-se dele.

 

Observa-se, também, que a duração em que nos mantemos nesse stress contribui para esse esgotamento. Mal comparando, é a mesma sensação que temos quando seguramos um objeto pesado. Dependendo do tempo em que o mantemos nos braços, por exemplo, conseguimos suportá-lo. Mas, se o tempo se prolongar, temos quase que uma falência física, se não tivermos força suficiente.

 

Neurotransmissores e Humor

 

Neurotransmissores como serotonina, dopamina e norepinefrina são essenciais para regular o humor e a motivação. A exaustão pode resultar de desequilíbrios nesses neurotransmissores. Por exemplo, níveis baixos de serotonina estão associados à depressão e à fadiga, enquanto a dopamina está ligada à motivação e ao prazer. A exaustão crônica pode afetar negativamente esses sistemas neurotransmissores. Sem humor e com baixa motivação, o peso fica ainda maior e a possibilidade de a exaustão piorar a situação é grande.

 

Como construir um ano sem cair na exaustão

 

Por incrível que pareça, um dos grandes boicotes que se apresenta para não se conseguir sair da exaustão, é a tendência em ser vítima, em vez de assumir a responsabilidade pessoal por evitar tal situação.

 

A Mentalidade de Vítima e a Responsabilidade Pessoal na Prevenção da Exaustão

 

Há um ganho na reclamação em estar exausto e, mais do que isso, é quase um pecado chegar no final do ano sem estar cansado, exausto. E existem motivos para isso:

 

Razões Psicológicas e Sociais

 

  • Validação Social: Em algumas culturas corporativas, na família e, com amigos, estar ocupado ou exausto é visto como um sinal de dedicação e sucesso, o que pode levar as pessoas a valorizar e até exagerar seu estado de exaustão para ganhar reconhecimento ou empatia dos outros.
  • Evitação de Responsabilidade: Assumir o papel de vítima pode ser uma maneira de evitar a responsabilidade por não estabelecer limites saudáveis ou por não gerenciar eficazmente o tempo e as tarefas.

 

O Caminho começa dentro, a importância de assumir a responsabilidade pessoal

 

A responsabilidade por chegar ao final do ano, ou ao final de um ciclo bem, feliz e com entusiasmo é pessoal e intransferível. Para isso:

 

Mudança de Perspectiva

 

  • Empoderamento Através da Ação: Reconhecer que se tem controle sobre como responder às demandas do trabalho pode ser empoderador. Adotar uma abordagem proativa para o gerenciamento do tempo, delegação e autocuidado são passos essenciais.
  • Desenvolvimento de Resiliência: Assumir a responsabilidade pessoal pela própria saúde mental e bem-estar contribui para o desenvolvimento de resiliência, permitindo que os indivíduos lidem melhor com o estresse e a pressão.

 

E o como fica o cérebro? Boas notícias:

 

Neuroplasticidade e Recuperação

 

O cérebro pode, com alguns manejos simples, ter momentos de descanso, graças à neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar. Essa característica do nosso cérebro desempenha um papel fundamental na manutenção da nossa saúde mental. Práticas como meditação, exercícios físicos e terapia podem ajudar a reconfigurar padrões cerebrais, proporcionando alívio do estresse e melhorando a resiliência. Pausas para contemplar a natureza, fazer o que gosta de forma consciente e presente, conversar com pessoas positivas e interessantes, trocar carinho, atenção e cuidado, também são formas que o cérebro entende que pode relaxar.

 

Sono e Exaustão

 

O sono é outro grande fator para a saúde do cérebro e para o manejo da exaustão. Durante o sono, ocorrem processos de reparação e consolidação da memória. A privação de sono pode agravar a sensação de exaustão, afetando negativamente tanto a capacidade cognitiva quanto o estado emocional.

 

Além do que já foi mencionado, é bom destacar algumas estratégias de prevenção à exaustão, que cada um de nós pode utilizar para chegarmos ao final deste ano bem, pronto para o próximo.

 

Estratégias de Prevenção

 

  • Autonomia e Significado no Trabalho Priorização: Identificar e focar nas tarefas mais importantes e de maior impacto, sempre reconhecendo o porquê e para que da atividade, além de estabelecer uma relação com a missão de vida, o que traz mais motivação e possibilita equilibrar o humor.

 

  • Gestão do Tempo e Delegação de Tarefas

Priorização: Identificar e focar nas tarefas mais importantes e de   maior impacto.

Agendamento Consciente: Reservar períodos para trabalho ininterrupto e também para descanso e recuperação.

Delegação: Identificar tarefas que podem ser delegadas e confiar na equipe para executá-las.

 

  • Autocuidado e Saúde Mental

Exercícios Físicos: Atividades físicas regulares são essenciais para a saúde mental e física.

Alimentação Saudável: Uma dieta equilibrada contribui para o bem-estar geral.

Mindfulness e Meditação: Práticas para reduzir o estresse e aumentar a concentração.

Regulação Emocional: Aprender a sentir o que precisa ser sentido e regular a emoção, sem se perder em devaneios, ilusões, críticas excessivas. Ou seja, aprender a dar valor ao que, de fato, tem valor.

Ficar no presente: Cada vez mais se sabe que o futuro, por mais que seja previsto, conta com uma grande dose de imprevisibilidade e, sofrer por aquilo que ainda não aconteceu ou, por outro lado, ficar no passado, não aceitando as mudanças, não é o caminho que pode levar à saúde mental. O que existe é o aqui e o agora e aproveitá-lo é o que torna a vida algo de fato valoroso.

 

  • Equilíbrio entre Trabalho e Vida Pessoal

Estabelecer Limites Claros: Delimitar o tempo de trabalho e o tempo pessoal. Fazer escolhas adequadas em relação à empresa / local / família a que pertence.

Desconexão Tecnológica: Limitar o uso de dispositivos eletrônicos fora do horário de trabalho.

 

Apesar de tudo que foi apresentado até aqui parecer muito simples, nem sempre é fácil, porque às vezes há necessidade de recursos externos para a pessoa conseguir se livrar desses hábitos destrutivos que levam à exaustão (porque no fundo é uma maneira repetitiva de enxergar as coisas). É nesse momento que pode ser necessária a presença de um Mentor ou de um Terapeuta, ou até de um Líder que seja consciente, uma vez que quando os líderes demonstram equilíbrio e autocuidado, estabelecem um precedente e uma fonte de aprendizado para outros na organização.

 

Essa necessidade é real, uma vez que sempre precisamos do outro para irmos além de nós mesmos, alguém que possa nos ajudar a ressignificar a realidade. Portanto, buscar ajuda e apoio é um ato de coragem e de grande importância para nossa saúde mental.

 

Conclusão ou Palavras Finais

 

Exaustão é um tema complexo que se conecta com escolhas e hábitos pessoais e sociais.

 

Se você chegou até aqui e teve a sensação que já sabia de tudo, fica a pergunta: se sabe… faz o que precisa ser feito para evitar a exaustão? Se sim, parabéns!!!! Continue, apesar de toda pressão social para que você seja mais um exausto na vida.

 

Se não, tenho certeza que você tem muitas justificativas para viver uma vida estressante e imagina que só ocupa seu cargo, porque se exaure completamente, “dá o sangue” e se sente comprometido (a). Isso não é comprometimento. Às vezes, o nome disso é suicídio. No meu trabalho de mentoria, ouço uma série de desculpas que justificam a exaustão. E, tenho certeza que não são desculpas, são verdades, é a realidade da pessoa. Por vezes, a empresa fortalece em demasia a exaustão. De qualquer forma, ainda assim, existe uma escolha de ficar ou não em um ambiente tóxico.

 

No entanto, já vi situações onde todas essas desculpas se transformaram rapidamente, após um diagnóstico de uma doença séria ou de um acontecimento como demissão, por exemplo.

 

O que sempre digo é que, se cada um de nós não atua para ser saudável mentalmente, não há quem possa fazê-lo. É uma escolha individual. Espero, então, que fique uma reflexão sobre sua postura em relação à vida que leva, uma vez que: “Se acontecer algo a você, a empresa sentirá sua falta, mas a vida segue e, certamente, você será substituído. Na sua casa, a falta será muito maior e a dor intensa, mas a vida também segue. Mas, para você, a perda será da sua própria vida, do seu tempo de “ser”. Pense nisso!

 

Profa. Dra. Fátima Motta

 

 

 

Referências:

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  1. Habeger, A. D., Connell, T. D. J., Harris, R. L., & Jackson, C. (2022). Promoting Burnout Prevention Through a Socio-Ecological Lens. Delaware Journal of Public Health, 8, 70-75. Promoting Burnout Prevention Through a Socio-Ecological Lens

 

  1. Pijpker, R., Kerksieck, P., Tušl, M., de Bloom, J., Brauchli, R., & Bauer, G. (2022). The Role of Off-Job Crafting in Burnout Prevention during COVID-19 Crisis: A Longitudinal Study. International Journal of Environmental Research and Public Health, 19. The Role of Off-Job Crafting in Burnout Prevention during COVID-19 Crisis: A Longitudinal Study

 

  1. Vyas, L. (2022). “New normal” at work in a post-COVID world: work–life balance and labor markets. Policy & Society. “New normal” at work in a post-COVID world: work–life balance and labor markets

 

 

Consciência Emocional é o maior desafio para os humanos seres que somos. É ela  que nos diferencia dos animais e, pela dificuldade de construí-la, talvez seja  o que gera maior problema nos relacionamentos, sejam eles profissionais ou pessoais.

 

As palestras, programas e mentorias que desenvolvemos têm sempre como objetivo fornecer ferramentas, metodologias e caminhos, para que você possa lidar com suas emoções de forma a gerenciá-las, criando e mantendo relacionamentos saudáveis, bem como tomando decisões acertadas.

 

Venha conhecê-las!

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