Por que falham alguns treinamentos?

A importância em manter a equipe treinada e uma verdade indiscutível, o que leva as empresas a investirem maciçamente em cursos, palestras, seminarios e programas dos mais variados. No entanto, nem sempre acontece o retorno esperado, ou seja, por vezes nada muda. A pergunta que fica no ar é sempre a mesma: por que?

 

Existem algumas considerações importantes a fazer. Uma delas é a real necessidade do treinamento. Em algumas empresas, os programas são escolhidos pelo nome, sem o devido cuidado na adequação do conteúdo à necessidade dos treinandos. Quando o treinamento é escolhido em função da avaliação de desempenho, embora exista um maior cuidado, nao sao raros os casos onde quem define o que deve ser feito é o avaliador e o avaliado, a contra gosto, assina embaixo, tentando, com o treinamento, conseguir a tão almejada promoção, ou mostrar ao seu chefe que quer fazer de tudo para melhorar seu desempenho.

 

Estas situações são encontradas junto às mais diferentes empresas, nacionais ou internacionais, em todos os níveis hierárquicos, de operários a diretores.

 

Diante dessas situações, por melhor que seja o treinamento, por melhor que seja o instrutor, o que será lembrado é o coffee break, por desespero do pessoal que tanto trabalho teve para gerar mudanqas na organização.

 

Além desses problemas já conhecidos, imaginando que fossem contornados, resta ainda o maior de todos: a resistência individual à mudança. Por vezes, os programas fixam-se aos aspectos técnicos e esquecem os comportamentais. Até uma mudança na forma de operar uma maquiná pode não acontecer se o operário não estiver conscientizado da importância e do motivo da mudança. Não e apenas a forma de manuseio que muda, mas todo um comportamento e maneira de pensar que deve ser alterada.

 

Resultados contrários aos esperados também podem ser conseguidos quando se oferece um treinamento fora do país para um executivo, sem os devidos cuidados. Como o período de treinamento provavelmente é longo, principalmente quando se trata de estágios em diversas filiais da empresa, a distância da família é um fator muito sério que pode gerar desconforto e insegurança no profissional. Nesses casos, não só o cuidado com o conteúdo do “business training” de ser redobrado, mas também o planejamento deve ser preciso e anteriormente negociado com o participante. Além disso e, acima de tudo, o apoio emocional e a preocupação com a adaptação do executivo devem ser levados em consideração pelos organizadores do programa.

 

Portanto, para que a mudança realmente aconteça, para que o treinamento dê resultado, não se pode esquecer do elemento básico que é a própria pessoa, sua vontade de aprender e de mudar.

 

Diante disso, vale à pena pensar nas seguintes questões:

  • O que o colaborador acha que precisa para melhorar seu desempenho e a mesma coisa que a empresa está oferecendo?
  • O colaborador quer, sente que precisa e está motivado a aprender?
  • Os princípios e valores implícitos no conteúdo são praticados pelos superiores?
  • Existe potencial para aprender?

 

Se estas questões básicas ja foram resolvidas, ainda sobram alguns pontos:

  • Quais os medos e ansiedades que se escondem atrás de cada treinando?
  • Quais as dificuldades existentes para a realização de novos contatos, para a participação em trabalhos de grupo que podem interferir no aprendizado?
  • Qual o grau de abertura de cada participante?
  • Quais as dificuldades de expressão e de assimilação que apresentam?
  • Quais as reais expectativas que levam para a sala de treinamento?

 

E, por fim, fica a consideraqao maior:

  • O coordenador do programa e o instrutor/professor conseguem enxergar cada treinando como um ser humano único?
  • Além da técnica, há a preocupação com a adequação do conteúdo às necessidades individuais?
  • Qual o objetivo final do instrutor? Ser bem avaliado ou ensinar o conteúdo?
  • Como o instrutor lida com o próprio stress e com a sua aceitação perante o grupo?
  • Qual o nível de afeto, compreensão, compaixão e humildade presente em cada conteúdo transmitido?

 

Ou seja, atrás do processo de treinamento estão seres humanos e precisam ser considerados todos os fatores que podem interferir favorável ou desfavoravelmente no aprendizado. O papel de quem coordena o processo de treinamento de uma empresa, assim como o papel do instrutor, professor/orientador são de extrema importância para que a mudanqa aconteça dentro de uma empresa. Assim, o conhecimento do comportamento humano e indispensável para qualquer pessoa que lide com o processo de aprendizagem e “coaching”.

 

O ideal é que os treinamentos dentro de uma empresa sejam considerados como um elemento estratégico e que seja dada toda a atenção ao planejamento dos programas.

 

A escolha dos programas e instrutores deve ser criteriosa, tomando-se como base não apenas o preço e/ou a entidade responsável pela sua aplicação, mas, acima de tudo, o instrutor, suas qualidades técnicas e pessoais e sua flexibilidade para atender as reais necessidades da empresa.

 

E, ainda, nenhum treinamento isolado pode provocar mudanqas na empresa. O trabalho deve continuar, tanto através de programas formais, como através da postura e acompanhamento do superior imediato, este sim, o grande treinador, o coaching do time.

 

Só para terminar, vale a pena lembrar, uma das coisas que Madre Teresa de Calcutá, um exemplo de desempenho pessoal e de coaching de equipe, sempre falava:

 

“Não importa o que você faça, mas faqa com amor”.

 

O que quero dizer com isso, é que o melhor treinamento que se pode fazer junto a alguém é ensina-lo a amar o que faz, seja o que for, porque do contrário, o desempenho, a motivação, o empenho, nunca serão sufioientes.

 

No entanto, para ensinar a amar, precisa-se ser capaz de amar. Só se ensina o que é conhecido. Fica aqui o grande desafio para todos aqueles que direta ou indiretamente se preocupam com o desempenho da equipe, todos os que treinam, todos os que dirigem pessoas.

 

 

Fátima Motta

Sócia-diretora da FM Consultores

Coordenadora e professora da cadeira de Fator Humano como Diferencial Competitivo nos cursos de Pós e MBA da ESPM.

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