Crescimento: Um trabalho conjunto

Você sabe a diferença entre coaching, mentoria e psicanálise?

Nosso processo de evolução e de crescimento é algo tão importante que, por muitas vezes, não damos conta de como acontece e qual o papel das universidades, dos professores, da mentoria, do coaching, da psicanálise, dos familiares, entre vários outros.

Um dos principais fatores para o nosso crescimento e evolução é a capacidade de compartilhar conhecimentos. E, quanto mais compartilhamos, mais desenvolvemos nosso autoconhecimento. Reconheço, então, o papel insuperável das universidades, dos professores, dos mentores, do coaching, da psicanálise, dos familiares, entre outros, como grandes vetores de ajuda humanitária. Assim, meu objetivo é falar sobre cada uma dessas frentes, a partir de minha própria vivência.

Minha reflexão é baseada, em grande parte, na obra do escritor Pedro Ouspensky : “A Psicologia da evolução possível ao homem”. Esse autor destacou-se como alguém muito importante por tornar mais acessíveis os conhecimentos trazidos por Georgiǐ Ivanovič Gǐurdžiev, místico e mestre espiritual armênio. Ensinou a filosofia do autoconhecimento profundo, através da lembrança de si, transmitindo a seus alunos, primeiro em São Petersburgo, depois em Paris, o que aprendera em suas viagens pela Rússia, Afeganistão e outros países.

O livro, Psicologia da evolução possível do homem, é riquíssimo em informações que estão diretamente ligadas ao Eneagrama, técnica milenar que nos ajuda a entender nossa identidade, como evoluímos e de que forma crescemos.

Nós, como seres humanos, desejamos crescer na vida, sermos melhores, batalhar para nosso desenvolvimento. Porém, esse processo de evolução é algo complexo. De acordo com o livro mencionado, “nossa ideia fundamental é de que o homem, tal como o conhecemos, não é um ser acabado.” Essa é a primeira constatação fundamental: o homem não é um ser acabado. Quando passamos a entender essa fundamentação, podemos realizar, no primeiro momento, que estaremos sempre em constante evolução.

Se pensarmos em um profissional que não evolui, que estaciona, nós percebemos que ele não consegue fazer absolutamente nada. Quem trabalha em qualquer tipo de empresa necessariamente precisa evoluir para se manter no emprego, precisa desenvolver novas competências. Isso ocorre também na vida pessoal. Percebemos o quanto tivemos que evoluir para nos relacionarmos melhor com outros seres humanos.

O autor prossegue: “A natureza nos desenvolve até certo ponto e logo nos abandona, deixando-nos prosseguir com nossos próprios esforços e nossas próprias iniciativas, ou viver e morrer tal como nascemos ou, ainda, degenerar ou perder a capacidade de desenvolvimento”. É muito diferente dos animais, pois a natureza os acompanha o tempo todo.

Ao contrário disso, o ser humano é colocado na natureza. A partir daí, podemos observar as diferenças entre as várias pessoas, neste caso, as que não fazem nada para crescer e as que evoluem e fazem toda a diferença. O autor cita que no primeiro caso – pessoas que param – degeneram-se e perdem a capacidade de desenvolvimento. Às vezes, podemos observar esse processo em pessoas que se aposentam e não desenvolvem mais nenhuma atividade, envelhecem e, aos poucos, vão se degenerando.

Precisamos de 24 horas do dia para nos desenvolver porque o desenvolvimento simplesmente não acontece porque somos humanos, mas, sim, porque depende de uma vontade, de um querer.

Sendo assim, tudo que está dentro de nós não vai se desenvolver de forma autônoma, mas, sim porque iniciamos um movimento para isso. Ou seja, a consciência daquilo que eu sou ou daquilo que quero ser, da minha capacidade de empatia e de soft skills, só irá se desenvolver se eu quiser, se eu fizer um movimento para acordar o que tenho dentro de mim.

A experiência e a observação mostram que esse desenvolvimento em condição bem definida exige esforços especiais por parte do próprio homem e uma ajuda suficiente por parte daqueles que, antes dele, empreenderam um trabalho da mesma ordem e chegaram a um certo grau de desenvolvimento ou pelo menos a um certo conhecimento dos métodos”. Essa frase deixa claro que nenhum de nós é autossuficiente. Precisamos do outro para crescer. E isso acontece em todas as áreas da vida. Mesmo nas pequenas coisas, sempre tem alguém do nosso lado que nos ensina algo. Na família, na empresa, nos estudos, na carreira e nos relacionamentos.

Temos que ter a consciência de que não crescemos se alguém não nos der a mão e, por outro lado, precisamos dar a mão para que outra pessoa também possa evoluir. Esse movimento é importantíssimo porque no momento em que você está dando a mão para sua evolução, você também está dando a mão para outra pessoa crescer, transformando essa postura em uma escada evolutiva.

Isso é um movimento de evolução fantástico, no qual há vários mestres e professores que nos ajudaram a crescer, ao mesmo tempo em que estávamos ajudando alguém a evoluir também.

Para potencializar esse processo, a conexão é algo importante, ou seja, saber valorizar o outro é essencial, pois a partir do momento em que conseguimos entender que o crescimento é um trabalho conjunto, sempre buscaremos os mestres para o conhecimento.

É nossa missão dar a mão para alguém que realmente está buscando evolução e, sob esta ótica, o autor explica: “Devemos partir da ideia de que sem esforços a evolução é impossível e sem a presença de alguém que ajude é igualmente impossível”. Isso nos mostra que, se hoje estamos enfatizando tanto a competência de aprender a aprender, não adianta querer aprender sem ter esforço.

O aprendizado é, geralmente, um movimento que gera um esforço nosso, pois imaginamos que sabemos e, na verdade, não sabemos, só temos a informação. Nossa mente brinca com as informações e é comum ouvirmos… eu já sabia disso….mas existe uma enorme diferença entre ter a informação e realmente saber algo, ter se desenvolvido a partir de uma informação que pode ter se tornando um conhecimento. Quando uma informação vira conhecimento? Quando é colocada em prática, aceita e, portanto, compreendida.

As mídias sociais estão repletas de informações, mas só de informações. Para virar conhecimento, precisamos trazê-las para nós, para o nosso modelo mental. Ainda assim, pode não adiantar, pois, para que aprendamos de fato alguma coisa, precisamos transformar o conhecimento em compreensão. E o conhecimento se torna compreensão quando ele inunda nossas células a ponto de fazer parte do nosso ‘ser”. Dando um breve exemplo, podemos falar de alguém que está em uma autoescola. Em um primeiro momento essa pessoa obtém informações de como dirigir, em um segundo momento adquiri habilidade para isso, ou seja, conhece o processo de dirigir e, em um terceiro momento pode dirigir de uma forma tão natural, sem pensar, e aí, toca a compreensão do dirigir.

Então, seguindo esse mesmo raciocínio, quando se fala em empatia, humanização e diversidade, por exemplo, assuntos tão em pauta hoje, para compreendermos e sermos realmente empáticos, humanos e diversos, precisamos trabalhar arduamente esses conceitos dentro de nós. E, nesse processo de evolução e esforço, precisamos de alguém que nos ensine, que fale o método a ser usado e que esteja sempre por perto.

Devemos compreender que no caminho deve-se tornar um ser diferente, eu preciso estudar e me conceber de que modo e em que direção o homem deve se converter em um ser diferente. Mas o que significa ser diferente?”

Nesse ponto, o autor diz o seguinte: Por que as pessoas se diferem? Se alguém subiu de cargo, conseguiu ter sucesso profissional, ela é uma pessoa diferente. E o que é ser diferente? Ser diferente é aquela pessoa que aposta e paga o preço para buscar o seu melhor. Existem poucas pessoas que são diferentes e efetivamente são poucas as pessoas que crescem e evoluem. O próprio autor questiona se isso é uma injustiça. Mas, segundo ele, quem quer ser diferente tem que pagar um preço que, muitas vezes, as pessoas não querem, ou seja, elas não são diferentes, não evoluem, porque simplesmente não querem.

A ideia essencial é que para tornar-se um ser diferente o homem deve desejá-lo intensamente e por muito tempo. Um desejo passageiro e vago nascido de uma insatisfação não diz respeito às condições exteriores, não criará um impulso suficiente.” “Se o homem não desejar com bastante intensidade e não fizer os esforços necessários, nunca se desenvolverá”

Sendo assim, a partir do momento que, de fato, queremos nos diferenciar, passamos a investir em nós.

Mas como faço para evoluir? Primeiro, preciso, de fato, querer. Depois, preciso definir o que fazer para isso acontecer, como, por exemplo, cursos, especializações, entre outros.

Quando fazemos um curso, recebemos informações. Com essas informações, podemos transformar esse conteúdo em prática e, efetivamente, esse conhecimento se transformará em compreensão. A partir daí, nos diferenciamos e evoluímos. Aqui, entra o papel dos professores, dos livros e todo esse movimento transforma-se em um trabalho conjunto.

Outro caminho é quando buscamos esse conhecimento em outra pessoa. Neste caso, temos as figuras do coach e do mentor. Mas, qual a diferença entre eles? O coach, infelizmente, foi muito popularizado justamente porque, em muitas situações, o profissional (coach) não adquiriu o preparo necessário, levando a outra pessoa (coachee) a um lugar pouco produtivo.

Quando optamos por um coah precisamos observar uma série de fatores, tais como experiência de vida, experiência profissional, experiência como coach, formação acadêmica, certificação nacional e internacional como coach, horas coach já realizadas, resultados obtidos, e assim por diante. Existem vários tipos de coaching, como o coach de carreira, coach voltado a negócios, coach de vida, coach comportamental, coach executivo e outros.

Mas, como é o processo de coaching?

É basicamente o seguinte: estamos em um lugar e queremos chegar a outro. Assim, definimos uma forma de sair de um ponto e chegar a outro ponto com a ajuda de um coach. Essa ajuda é muito poderosa porque em função da sua experiência, da formação adequada, o coach vai fazer perguntas para que possamos refletir sobre nossa demanda. Porém, depende muito de nós identificarmos quais são nossas fragilidades e nos abrirmos para que o processo seja eficiente.

O processo de coaching começa com o despertar para o autoconhecimento, ou seja, o coachee precisa reconhecer minimamente sua personalidade para, a partir daí, entender melhor seus gaps.

Tudo acontece com base no autoconhecimento, pois quando não nos conhecemos, não sabemos para onde quer ir. O autoconhecimento é a peça básica para sair de um lugar rumo à outra posição. O coach ajuda a pessoa e entender onde ela está e para onde deseja ir. ?

Ouspensky fala que “o ponto mais importante é que o desenvolvimento não pode se basear na mentira a si mesmo, nem enganar-se a si mesmo”.

Muitas vezes, nos enganamos achando que não precisamos de muita orientação, sob a ilusão de que já sabemos tudo e, por isso, não conseguimos enxergar o que precisa ser melhorado.

Quando desejamos alcançar um novo patamar de desenvolvimento, seja um novo cargo, seja um novo patamar de consciência, ou até mesmo eliminar algo que nos incomoda, precisamos investir em nós, avaliar quais as competências que não temos e, acima de tudo, ver se estamos dispostos a pagar o preço para desenvolver essas competências. Elas podem ser, por exemplo, o desenvolvimento de um pensamento estratégico, inovação, inteligência artificial, intrapessoal, emocional, enfim, precisamos, acima de tudo, ter vontade e garra para encarar todos esses desafios.

O profissional precisa estar ciente de que, quando mexer em alguma parte do seu desafio, estará, na verdade, movimentando toda sua vida. O processo de coaching, quando bem-feito, pode gerar grandes transformações em todas as áreas da vida, porque, como sabemos, tudo está conectado, então, a mudança nunca é um fato estanque e isolado, mas sim, uma teia conectada no palco da vida.

Durante o processo de coaching, muitas vezes, identificamos que diversas questões a serem trabalhadas tiveram sua origem em acontecimentos ligados ao passado e à infância. Nestas situações, é comum que seja recomendado acompanhamento por meio de terapia, psicoterapia ou psicanálise.

A partir daí podemos estabelecer a diferença entre coaching e terapia. O processo de coaching tem começo, meio e fim. A terapia ou psicanálise é mais voltada ao passado, fatos que estão no inconsciente da pessoa e que são extremamente importantes. A psicanálise vai se aprofundando cada vez mais em nosso interior, com intuito de desvendar as competências que foram deixadas para trás e que, portanto, precisam ser resgatadas e/ou desenvolvidas.

Segundo Ouspensky “o homem é uma máquina, uma máquina singular, e se as circunstâncias se prestarem a isso e se bem dirigida, essa máquina poderá saber que é uma máquina, e se der conta disso plenamente, ela poderá encontrar os meios para deixar de ser uma máquina”.

Isso é exatamente o que a psicanálise faz, pois quando entendemos o que está acontecendo, através do reconhecimento de aspectos inconsciente, começamos a ter consciência de parte de nossos sentimentos e comportamentos, ajudando-nos a ter maior domínio sobre eles.

A mudança passa a ser perceptível em vários aspectos, como o jeito que falamos, como reagimos a diferentes situações, como olhamos etc.

A partir daí, deixamos de ser uma máquina e começamos a fazer um movimento de retomada da consciência do “ser”.

E qual a diferença entre coaching e mentoria?

A mentoria normalmente está associada a alguém que vai dar conselhos, alguém que que se posiciona em relação aos questionamentos do mentorado. Por exemplo, queremos alguém que nos ajude a pensar como crescer na carreira, então, o mentor contará como construiu a carreira dele, como ele cresceu e se desenvolveu.

Uma figura bem mais experiente e que vai compartilhar todos sesobre tudo que passou na vida. O mentor normalmente apresenta grande qualificação profissional, é muito admirado, tido como exemplo a seguir. Possui um histórico de grandes conquistas, é reconhecido e possui qualificação e competência para ensinar e transferir seus conhecimentos.

Assim, a escolha do caminho a seguir, é de cada um, em função das suas necessidades.

E, na vida, tudo é uma questão de escolha, inclusive nossa evolução. Para evoluirmos precisamos, por um lado, de alguém que nos dê a mão e, por outro, o desejo e a confiança em segurá-la. Sem esquecer de também oferecer a outra mão para ajudar na evolução de outra pessoa, de forma que essa mão seja firme e certeira para cumprir igualmente seu papel na escalada evolutiva da humanidade.

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Profª. Drª. Fátima Motta 


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