Como um projeto de vida pode auxiliar a definir a carreira

COMO UM PROJETO DE VIDA PODE AUXILIAR A DEFINIR A CARREIRA

*Por Fátima Motta

A carreira nada mais é do que um caminho, feito através de escolhas conscientes ou não, portanto passíveis de acertos e erros. Mas, será que existem erros? Eu arriscaria dizer que não, uma vez que cada caminho vai conduzir a um lugar, talvez esperado ou não, valorizado pela sociedade ou não, mas, sempre chegará a um ponto.

Como todo caminho, várias bifurcações e mudanças de rota podem acontecer e, quanto mais formos atentos, adaptáveis e flexíveis, talvez esse caminho flua com naturalidade, conduzindo-nos exatamente onde deveríamos chegar.

Mas a pergunta continua: onde devo chegar? Onde quero chegar? Que recursos eu possuo? O que eu de fato desejo? Ou seja, será que me conheço para saber o que quero?

Apesar de ser óbvia a importância de um caminho planejado, nem sempre é fácil executá-lo, porque temos dificuldades com as escolhas, nem sempre feitas a partir da nossa essência, mas levando em consideração questões valorizadas pela sociedade e família, dinheiro e motivações extrínsecas. Ideias em desordem trazem ambivalência e antagonismos que precisam ser olhados de perto e trabalhados para que a vida não perca sua fluidez e sustentação naturais.

PROJETO DE VIDA OU PROJETOS DE VIDA?

Para colocar todas essas ideias em ordem, o Projeto de Vida pode ser um grande aliado e uma força muito potente para servir como uma bússola para a carreira de qualquer pessoa.

E, como o caminho pode mudar, em função de milhões de aspectos, é possível fazer um projeto, verificar o que não deu certo e partir para outro, ou até projetos que se integram e interagem. Eu sou um exemplo disso: iniciei minha carreira na área de Treinamento, em empresas e, aos poucos fui caminhando para projetos de consultoria concomitantes, que me levaram a ser professora da ESPM, possibilitando projetos concomitantes e complementares, bifurcando em projetos de mentoria que se acoplaram com estudos e atuação direta também como psicanalista. Ou seja, talvez no decorrer da vida tenhamos vários projetos.

Assim, não há a necessidade premente de acertar no primeiro porque é definitivo. Talvez seja o início de um caminho que pode se fundir com outro e assim por diante. O importante é fazer o caminho.

Como começar?

O PRIMEIRO PASSO: CONHECER QUEM SOU E O QUE QUERO

O ponto inicial começa dentro de cada pessoa. É o momento onde se começa a ter consciência do nosso “eu”. Assim, o primeiro passo desse caminho é fazer uma retrospectiva da vida, que pode acontecer aos 18, 20, 40, 60, 80 ou mais, identificando momentos de sucesso, de prazer, feedbacks positivos, entrando em contato com aspectos que mostraram pontos fortes, ações feitas sem esforço, os grandes prazeres, momentos de felicidade.

Para tornar mais claro esse raciocínio, vou dar um exemplo. Imagine uma pessoa chamada Carolina que sempre viveu em uma cidade grande, uma metrópole, ficava o tempo todo estudando, lia suas lições em voz alta, sempre foi boa aluna, com notas altas e tinha uma lousa onde escrevia todas as lições aprendidas. Carolina também ajudava sua mãe a lavar e enxugar a louça e tirar o pó dos móveis e, quando ficou um pouco mais adulta, começou a ajudar o seu pai a fazer o imposto de renda. É possível que Carolina tenha uma certa inclinação para ajudar os outros e também de ensinar. Será?

Só Carolina é que poderá dizer, mas é isso que ela precisa fazer.  A técnica é, então. em primeiro lugar, escrever a história da sua vida e identificar pontos em que possa se conectar a seus gostos e desejos.

Mas não são apenas os gostos que definem para onde se quer ir, também as características de personalidade, aspectos mais profundos da psique tendem a ter um papel bastante significativo. É nesse momento que se pode buscar por ferramentas de autoconhecimento e profissionais para ajudar nessa empreitada. Voltando ao exemplo de Carolina, ela poderia descobrir que tem uma personalidade voltada ao desempenho, à performance, que não gosta de muitos detalhes e nem de análises profundas. Parece, então, que seja o que for que Carolina fizer, precisa gerar um resultado, passível de ser medido. Chega-se a uma consideração importante:  Carolina pode ajudar os outros e ensinar, desde que tenha um objetivo passível de ser mensurado. Pode trabalhar em escolas, em áreas de desenvolvimento humano ou ainda como psicóloga.

Se, além dessa análise, todos os feedbacks que recebe confirmarem essas tendências, talvez seja um caminho interessante para Carolina continuar desvendando. Carolina sempre recebeu feedback positivo ao se comunicar e ao se expressar, além de ter uma postura de muita presença. Passava credibilidade ao expressar uma ideia, por mais simples que fosse.

Assim, outra ferramenta que ajuda para que se trilhe uma carreira são os feedbacks que se recebe no decorrer da vida, ou que se deve buscar. Gosto da ideia de buscar o feedback fazendo duas perguntas: o que eu faço que te ajuda e o que eu faço que te atrapalha.

A partir desse e de outros inputs, pode-se iniciar um projeto de vida, que começa com a seguinte pergunta:

ONDE EU ESTOU?

Ou seja, a história da vida, os feedbacks, as experiências positivas, as características, os sucessos obtidos, as dificuldades, as competências que se apresentam no comportamento, podem indicar onde se está.

A próxima pergunta necessariamente seria:

ONDE QUERO ESTAR? QUAL MEU OBJETIVO?

Neste ponto é importante definir o ponto principal, capaz de gerar felicidade, algo que faz sentido, a ponto de ser o motor propulsor para se levantar de manhã: o propósito.

O propósito de vida é o motivo pelo qual se acorda todas as manhãs. É a missão que se tem no mundo, algo que faz sentir-se bem.

Para se traçar um propósito de vida o caminho é o seguinte:

  • Princípios (moralidade) – são âncoras que ditarão as condutas morais que seguiremos no cotidiano. 
  • Missão – Concentração – a missão é o guia do que nos comprometemos a ser todos os dias. Já a concentração – cujo significado é “junto ao centro” ou “com centro” – é o mapa para seguirmos em nossa jornada.
  • Visão – sabedoria – poder enxergar mais longe do que os outros é a qualidade que torna as pessoas de sucesso visionárias.

Os valores pessoais fazem um coro forte com o propósito. Onde quero chegar e como quero chegar. O que valorizo, onde quero colocar minha energia, para que vale a pena viver, como posso ajudar o mundo?

Talvez seja uma pergunta não muito fácil de ser respondida, mas a charada pode ser desvendada olhando com determinação as competências que se tem e o que se faz com elas. É onde está nossa paixão, o que fazemos sem esforço, com naturalidade, com prazer.

E nesse ponto nos deparamos com outra pergunta:

SEGUNDO PASSO: QUAIS OS RECURSOS QUE PRECISO PARA CHEGAR ONDE QUERO CHEGAR?

Para responder a essas duas perguntas, muitas vezes é fundamental investir no seu autoconhecimento, seja através de processos de coach, mentoria,  terapia ou psicanálise, ou ainda em Programas de Desenvolvimento que levam ao autoconhecimento, mas estamos falando o tempo todo sobre a capacidade que tenho de me observar e reconhecer aspectos da minha essência e da minha personalidade.

TERCEIRO PASSO: CONSTRUIR UM PROJETO

É importante colocar o propósito formatado em um projeto, onde deveriam constar os seguintes itens:

  • Qual o meu propósito?
  • O que eu faço, que me deixa verdadeiramente feliz?
  • O que eu sempre quis conquistar, mas nunca tive coragem?
  • Onde quero estar daqui a 5, 10, 15, ou 20 anos?
  • Como eu quero estar quando me aposentar?
  • Quais as trilhas de aprendizagem, valores e competências?
  • Quais os caminhos mais promissores para o desenvolvimento em todas as dimensões?

É um roteiro aberto de autoaprendizagem, multidimensional, em contínua construção e revisão, que pode modificar-se, adaptar-se e transformar-se ao longo da nossa vida.

Uma forma interessante de pensar em um projeto de vida é utilizar o Business Model You,  https://analistamodelosdenegocios.com.br/business-model-you-o-que-e/ uma adaptação ou uma releitura promovida pelo autor Tim Clark sobre o famoso método chamado Business Model Canvas, que permite que se faça o planejamento completo de um negócio em uma única tela (canvas).

A ideia dessa ferramenta é utilizar esse mesmo canvas para planejar a carreira, maximizando a criação de seu próprio valor. O canvas – e o livro – foi chamado, por isso, de Business Model You. Ou seja, o modelo de negócio aqui é Você!

CONCLUSÃO

O Projeto de Vida é um grande aliado para definir a trajetória da carreira, mas pode ser apenas uma ferramenta sem valor, uma vez que essa busca começa dentro de cada um, direcionada ao encontro da missão pessoal, ao que cada pessoa veio contribuir para o mundo. Assim, ferramentas ajudam apenas a colocar para fora o que existe como essencial e verdadeiro no interior de cada indivíduo.

E a parte mais interessante de todo esse processo é que, ao encontrar o caminho, o sentimento de paz, conforte e preenchimento se instalam, pelo menos durante algum tempo, até que esse caminho termine e o ciclo se renove com outros desafios que, mais do que definir uma carreira, ajudam no desenvolvimento do “humano ser”.

BIBLIOGRAFIA

ANDREWS, Susan. A ciência de ser feliz. [e-book] São Paulo: Ágora, 2011. >.

ARAÚJO, Ulisses F. Projetos de vida: fundamentos psicológicos, éticos e práticas educacionais. 1. ed. São Paulo: Summus, 2020.

GOLD, Miriam. Gestão de carreira: como ser o protagonista de sua própria história. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Disponível em:

CORTELLA, Mario Sergio. Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização. São Paulo: Planeta, 2016.

Profª. Drª. Fátima Motta

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