Lealdade… Uma breve reflexão!

Nos últimos dias a palavra lealdade está presente nos meus pensamentos, o que leva a uma busca em relação ao seu sentido e significado. Nas pesquisas que empreendi, descobri coisas importantes. Em primeiro lugar, o quanto essa palavra é antiga. Lealdade parece algo de séculos passados, valorizada pelos antigos e esquecida por muitos de nós. Por outro lado, tudo que queremos, hoje, é ter amigos leais, parceiros leais, companheiros leais, colaboradores leais. Ou seja, parece que o que mais queremos é o que menos sabemos como conquistar e sustentar. Ao contrário, fluidez, liquidez são adjetivos condizentes com a pressa, ansiedade, frugalidade e superficialidade desses nossos tempos e que, por osmose, povoam nossos relacionamentos, tornando-os artigos de consumo para serem postados no facebook.

 

Por tudo isso que a pergunta não se cala: o que é lealdade? Primeiro, é um substantivo feminino (talvez possamos pensar que o feminino cultua mais essa qualidade?). Tem origem no termo legalis, que em latim remete para o conceito de lei. Ou seja, leal é aquele em quem se pode confiar porque cumpre suas obrigações legais, alguém que não falha com seus compromissos, demonstrando responsabilidade, honestidade, retidão, honra e decência. Ou seja, pode-se entender que alguém leal é quem cumpre suas promessas. Opa!!! Aquele a quem se pode confiar uma ideia, um segredo, uma informação, um trabalho, alguém que não vai “furar”, alguém leal. Aquele que cumpre suas obrigações legais, ou seja, alguém que assina um contrato e cumpre, alguém que não “dá o tão famoso jeitinho”, alguém que não fala uma coisa e faz outra, alguém que se olha nos olhos e se percebe a “lealdade”.

 

Honra e decência… que palavras fortes!!!! Alguém que honra o que fala, alguém decente, que não joga nos outros suas dificuldades, ou seja, responsável, acima de tudo. E, por fim, aquele que cumpre o que promete. Cumpre prazos, cumpre acordos, cumpre nada a mais ou a menos do que disse que faria, o velho “fio do bigode” que não exige assinaturas, papeis, documentos, exige apenas … lealdade!!!!

 

Quantas pessoas você conhece que são leais a você? Enchem as duas mãos? Não precisa ser amigo para ser leal, não precisa ser parente para ser leal. Precisa ter maturidade e construir um relacionamento verdadeiro, seja na empresa, na família, na escola, ou em qualquer outro local.

 

Essa joia rara é tão difícil de ser encontrada que fica a pergunta: como conseguir que as pessoas sejam leais? O que fazer para conseguir tamanho presente? E a resposta é bastante desanimadora: não há o que fazer para “comprar lealdade”. Pode-se construir um relacionamento com base na confiança que acaba por gerar a lealdade, apenas isso. Mesmo assim, nem sempre a reciprocidade acontece, mas, acreditando nos valores e princípios, seguem alguns passos que podem ajudar:

 

– Seja seletivo, selecione pessoas que tenham os mesmos valores que os seus, os mesmos valores que sua empresa. Para isso, fique atento ao que a pessoa fala, ao que ela valoriza, aos princípios que realmente apresenta no seu comportamento;

 

– Avalie o nível de abertura que a pessoa apresenta. Pessoas que nunca se abrem, não expõem seus verdadeiros pensamentos e sentimentos. Pessoas mais abertas tendem a demonstrar com mais clareza seus princípios e valores;

 

– Alinhe com clareza suas expectativas, regras do jogo e tenha certeza que a pessoa entendeu e comprou o que você expôs. Não deixe nada nas entrelinhas, ou aceite silêncios ao invés de afirmações. Pessoas leais são aquelas que se posicionam;

 

– Fique atento aos comportamentos e, ao menor sinal de inconformidades, converse, fale, posicione-se, lembrando-se da importância da construção do relacionamento aberto para a existência da confiança;

 

– Honre cada palavra dita, não fale algo e faça outra coisa. Fale e faça;

 

– Acredite na sua intuição, que pode salvar você de alguém que se diz leal, mas na verdade não é. Busque situações reais e livre-se rapidamente de pessoas assim. Atrasam a vida e a tornam mais difícil;

 

– Sustente com todas as forças as joias raras que têm e torne-se essa joia rara para as pessoas, pois ser leal é a qualidade dos humanos que efetivamente são seres que trazem orgulho para a nossa raça.

 

Quem é leal está junto no momento de dificuldade e não apenas por interesse. É por isso que sempre, quando pensamos em lealdade, vem à imagem um cachorro, que, com toda sua fidelidade, não escolhe ricos nem pobres, nem bonitos, nem feios, apenas oferece total lealdade ao seu dono, por uma questão de instinto, mais do que isso, por uma questão de profundo reconhecimento e dignidade.

 

Lealdade exige vínculo a uma causa e a princípios. Portanto, de nada adianta manter por anos a fio pessoas vinculadas a você ou à sua empresa, se não houver essa conexão profunda e verdadeira. É mais leal quem rompe vínculos porque não se sente ligado à causa e aos valores, ou aos procedimentos estabelecidos, do que os que se mantém numa falsa concordância, porém nutrindo uma profunda insatisfação. Isso é deslealdade das piores. Talvez evitar pessoas desleais seja ainda mais importante do que construir lealdade, pois quem é leal, é. Não é uma questão de ação do outro, mas uma postura que vem de dentro, uma atitude madura que constrói um ser humano digno.

 

Portanto, escolher a quem ser leal, definir com clareza princípios, buscar a lealdade de companheiros, amigos e colaboradores é uma tarefa árdua, a ser construída por quem efetivamente preocupa-se com o despertar da sua própria consciência em direção à autocura, à autoliderança e à construção de relacionamentos produtivos.

 

Então, ficam aqui duas perguntas: Você convive com pessoas leais? Você é leal?

 

 

Profa. Dra. Fátima Motta

Sócia-diretora da F&M Consultores

Professora de cursos e MBA e Pós-graduação na ESPM e na FIA-USP

 

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