Reflexões sobre “Noé” e “Her”

Domingo à tarde, dia para relaxar, sento-me frente à TV para assistir alguns filmes e vejo, em primeiro lugar “Her” e depois “Noé”. Entre um e outro filme, estarreço-me ao ver, no facebook, pessoas postando selfs no velório do candidato a presidente, morto de forma violenta em desastre de avião, Eduardo Campos. Meu irmão chega, eu paro de assistir o filme para colocar o jogo do Palmeiras e descubro que, para isso, pago R$ 90,00 (noventa reais). Envio e recebo mensagens de amigos, sem escutar suas vozes. Diante disso tudo, impossível não refletir.

 

Então vamos lá! O filme “her” mostra a destruição que fazemos diariamente conosco, na troca do real pela conexão com todos os sistemas do mundo virtual. Chocante as cenas das pessoas falando incessantemente com seus celulares, sem olhar para os humanos que se perfilam por todos os lados. Bocas que falam com sistemas, sem contato com o mundo real, buscando a felicidade perdida, dos vínculos esquecidos, querendo o amor virtual, na ilusão do preenchimento interno. Ficção tão próxima à realidade que até assusta. Hoje vejo bocas falando por toda parte e olhares fixos a telas dos “pad e phone” da vida. E assim, conectamos e desconectamos (do que é sensato, inclusive). Quer desconexão e absurdo maior do que fazer self em velório? O que explica isso é a busca do reconhecimento do outro, é a valorização da imagem pela imagem, do estar e não do ser, ou seja, é a pura auto validação.

 

Já o filme Noé, ao retratar algo tão antigo, traz o presente de forma chocante. Os homens que destroem a Terra, os recursos naturais, saqueiam o que podem, matam-se e morrem completamente desconectados do que o filme chama de Criador. Há necessidade de explicar o por que é atual? Guerras sem fim, violência, uso e abuso dos recursos naturais, poluição, busca pelo poder, números como grandes direcionadores da humanidade, busca do ter (lucro, dinheiro, consumo) e não do ser… além de tantas outras coisas que vivemos hoje.

 

E então, chego a que conclusão? Não quero chegar a nenhuma conclusão, mas a uma reflexão: a que estamos conectados? Parece que um dos problemas está aí: com que ou quem estamos ou não conectados. Parece que a conexão com o mundo virtual e a desconexão do espiritual é a tônica desses filmes, que mostram que essa receita não deu certo. Será que o contrário seria melhor? Desconexão do mundo virtual e conexão com o espiritual? Talvez continuássemos na dicotomia. E, quem sabe uma conexão consciente no mundo virtual e uma religação consciente com a espiritualidade? Para mim, é essa última reflexão que pode contribuir para um “ser” de fato “humano”, consciente e construtor de um caminho que integra e não domina, compartilha e não submete.

 

Profa. Dra. Fátima Motta
Sócia-diretora da FM Consultores
Professora da ESPM e da FIA-USP

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