Pompom, como alguns leitores já sabem, é um gato que trouxe de um Parque de São Paulo, onde eu e mais algumas pessoas cuidamos de 150 outros felinos que ali moram por terem sido, algum dia, abandonados. Foi em uma sexta-feira, 13 de setembro, para protegê-lo de possíveis maus tratos, (uma vez que algumas pessoas judiam, matam e usam para rituais gatos pretos) que tudo começou.
Dia após dia aprendo algo com esse ser de pelos pretos, olhos verdes e rabo cotó, como um pompom.
A primeira lição foi sobre Presença, escrito no texto anterior. A outra, a que me proponho escrever agora, é sobre Aceitação.
Ensinamento difícil de aprender, essa tal de aceitação…. brincando com a palavra, aceitação = aceita a ação. Particularmente é um desafiante aprendizado. Aceitar as diferenças, críticas, ritmos, facilidades , dificuldades, posturas, crenças, valores, meus e dos outros.
O Pompom me ensinou a aceitar sua natureza felina. Seus horários não são os meus horários, seja para comer, dormir ou brincar. Ele deixa claro do que gosta e do que não gosta. Confesso não ter sido nada fácil aceitar o jeito dele, apesar de conhecê-lo há mais de um ano, quando vivia no parque. Tinha uma expectativa sobre nosso relacionamento, de como iríamos brincar, de como seria sua integração com os outros gatos e cachorro da casa, entre outras coisas.
Descobri que aquilo que eu queria estava longe de acontecer e que só aconteceria se eu, em primeiro lugar, aceitasse o jeito de ser do Pompom, sua natureza de “gato do parque”, completamente diferente dos outros que já moram comigo há algum tempo.
Precisei aceitar seus medos, apesar de não entendê-los. Precisei aceitar suas dificuldades de integração. Aceitei, também, a dificuldade dos outros peludos em acolhê-lo na família. Aceitei, ainda, suas travas em relação ao ir e vir mais livremente pela casa. E entendi que se quisesse que o Pompom fosse feliz conosco, eu precisaria ajuda-lo, entendendo e aceitando seu tempo.
Aos poucos fui percebendo que tudo que aceitei com o Pompom me ajudava a entender alguns aspectos dos relacionamentos humanos. Fez-me pensar na importância de, em primeiro lugar, aceitar a natureza de cada pessoa, o jeito de ser que nos torna únicos, indivíduos, cuja origem essencial precisa ser aceita. Entender o Meu jeito de ser.
Entendendo e aceitando essa natureza, fica mais fácil compreender os medos (por mais difíceis que seja sua compreensão). Medo de errar, medo de não dar certo, medo de perder, medo de não ser aceito, medo de se expor, medo das críticas e julgamentos.
E claro é que, ao aceitar o outro, no fundo, estamos aceitando nossos próprios medos, nossas próprias dificuldades.
E o que dizer do tempo necessário para cada pessoa se integrar a um ambiente? Alguns são rápidos, outros mais lentos, alguns são abertos, outros fechados, no entanto, sempre é difícil se integrar a um grupo já formado (assim como foi para o Pompom participar do grupinho de peludos lá de casa), seja porque quem chega não se sente seguro, nem à vontade, seja porque quem já está coloca à prova quem chega, seja de forma evidente ou sutil.
E ainda, o trânsito fluente pelo novo ambiente, a participação produtiva, os resultados esperados. Ah! Como demoram!!!! Os limites de cada um precisam ser aceitos, assim como seu ritmo, limite e tempo pessoal.
Essas reflexões são válidas para as empresas, líderes, famílias, namorados e qualquer grupo ou colaborador, que precise se relacionar e, para tanto, aceitar, o que não significa ser subserviente. Pelo contrário, aceitar traz o agir, a força para cuidar, acolher e decidir.
Assim, integrar e ser integrado, ajudar e ser ajudado, compreender para ser compreendido é o nosso desafio, seres da natureza.
E aqui fica, resumidamente o que aprendi com Pompom, “o gato do parque”: para construir um relacionamento, é preciso aprender a acolher, aceitar e amar.
Profa. Dra. Fátima Motta