Um dos meus presentes de Natal foi ir ao cinema no dia 25, assistir a Star Wars. Não sou fã incondicional, mas fico encantada com as sutilezas presentes em todos os filmes da série, com a tecnologia e com a música, marcante e expressiva. E assim, ao começar a digitar, acesso a Rádio Cultura e, como para me inspirar no Programa, chamado Super 8, nada menos do que todas as músicas da saga estão sendo reproduzidas, como se quisessem me convidar a colocar na tela todos meus sentimentos. E assim, cedo ao convite e inicio essa breve reflexão…
Vários aspectos me chamaram a atenção, mas não tenho a pretensão de discorrer sobre todos e sempre que escrevo após assistir a um filme, é que, de alguma forma, esses pontos conversaram com a minha alma. No entanto, são só pontos de vista, talvez compartilhados por alguns e nem mesmo observados por outros.
O maior e mais importante aspecto que observei ao assistir Star Wars – o Despertar da Força foi o próprio despertar da força. Quem diria que seria uma mulher, a protagonista Rey, quem seria responsável pelo despertar da força? Ray descobre a força nela mesma, sem nenhum treinamento, apenas pelo reconhecimento de sua missão e pela firmeza de sua mente nos seus valores mais profundos, mais verdadeiros.
Tudo começa quando ela resolve “cuidar” do dróide aprisionado e liberta-o, “acolhendo-o”. Depois, apesar de sentir fome, não o vende, não o negocia e se mantém firme aos seus valores. Sua “intuição” não permite que seus valores sejam traídos.
Reconhece sua força quando se posiciona contra “o lado negro”. É uma “guardiã” de um segredo, cuja importância reconhece como sendo vital para um povo que se posiciona a favor da paz.
Quando atrai e luta com o sabre azul (que era de Luke) reconhece mais uma vez sua força, que está dentro dela e a serviço de algo maior. Por fim, sabe que o sabre não é dela e o retorna a seu dono, sendo a grande mensageira deste novo momento a ser construído.
Faço essas reflexões, a partir de todos os ensinamentos e do livro Visão Gestadora, escrito por Ramy Arany, mestra que me orienta a olhar para o feminino de forma diferenciada, permitindo a profundidade desta reflexão.
Se todas nós, mulheres, reconhecêssemos essa força em nós, quantos problemas seriam minimizados? Quantos problemas de autoestima seriam vencidos? Quantas decisões prejudiciais à vida e ao planeta seriam evitadas?
No entanto, interessante observar que, na dualidade em que vivemos ainda o feminino é desprezado, manipulado, subjugado e, com ele, toda força que poderia levar-nos a um mundo mais humano, gentil, forte e acolhedor.
Não expresso, nesse momento, nenhuma postura feminista, mas apenas constatações de um ser feminino com 58 anos, portanto vivida e com marcas de um passado onde as mulheres ainda eram vítimas (e ainda são) de agressões masculinas, tanto físicas quanto verbais e emocionais.
Peço licença para compartilhar um caso pessoal: ainda esta semana, dezembro de 2015, para ser respeitada por um “profissional”, que fez uma pequena reforma em um apartamento, a meu pedido, precisei ir acompanhada por um homem. Este “profissional” começou a me ameaçar e, assim que me viu com um homem ao lado, comportou-se de outra forma, mais comedida e cuidadosa.
Assim como essa experiência, vivi outra muito mais estarrecedora, com “profissional” da área, ao qual confiava, mas a inexistência de valores e escrúpulos é até agora sentida. E nesse momento não posso deixar de lembrar uma das partes mais emocionantes de Star Wars, quando o personagem que personifica o lado negro da força mata seu próprio pai. A total falta de reconhecimento por quem lhe deu a vida. E assim, a ficção traz à tona as sagas que experimentamos todos os dias, com a falta de reconhecimento e respeito.
Por outro lado, essas sagas também ajudam a relembrar que a força está em nós e que os heróis não são apenas homens, mas, como na mitologia, deusas e deuses caminham juntos com seus papéis, ou seja, homens e mulheres precisam aprender a lidar com suas respectivas forças.
Essa força será reconhecida na media em que estejamos conectados realmente com nossa missão. Foco e conexão com valores verdadeiros sempre serão precisos, porque o lado negro da força está sempre presente nos pequenos grandes vilões do dia a dia.
No entanto, parece caber ao feminino, nesse momento histórico, o lugar de mensageiro, o lugar de despertar a força. Para isso, o condutor é algo além do material, que nos coloca a serviço de uma causa maior do que nossa própria individualidade, maior do que nossos medos.
Este é um chamado que percebi nesse filme, colocado de forma sutil, que se conecta a todo aprendizado que desenvolvo há anos.
Com certeza poderia continuar tecendo algumas reflexões sobre esse filme, mas, a última e não menos importante é o quanto a felicidade está nas pequenas grandes coisas do dia a dia. Assistir a um filme no dia de Natal, um presente simples, que traz reflexões profundas.
Ainda como complemento a esses pequenos e simples momentos, acabo de escrever essas linhas e tenho no colo um lindo gato tigrado de olhos verdes, Tzil, ronronando alto, pedindo apenas um pouco de atenção e carinho.
E assim, o simples e o complexo conversam na profundidade da vida, para despertarmos nossa força de “ser”.
Profa. Dra. Fátima Motta